Não quero mais a neutralidade. Quero assumir minha realidade e me expor e vencer o medo de errar que bloqueia o movimento e a criação. Quero pecar por excesso.

Esse blog é isso. Um exercício de Libertação.








sábado, 6 de fevereiro de 2010

Estabelecendo contato com o teatro alemão

Descobri através da Net (Siiiimmm, internet pode ser muito útil se vc direcionar sua navegação e não ficar 5 horas no Orkut vasculhando a vida dos outros ou jogando Colheita Feliz, um jogo instrutivíssimo) que um grupo de teatro de Freising estava procurando por novos membros: Se você estiver interessado simplesmente apareça na quinta no bar tal às 20:00. Estava lá: A oportunidade piscando com luzes vermelhas de néon!!! Não tive como achar uma desculpa para não ir.
Então fui. Não só fui como fui a primeira a chegar. Péssimo. Mas tive a primeira descoberta: os alemães teatrais não são tão pontuais como os outros alemães. A dona do bar, uma mulher gorda comendo um prato de massa bem amarela, falou que eu esperasse, pois logo eles chegariam. Pedi então uma cerveja de trigo (Weiss Bier) para ter uma ação física que sustentasse minha ansiedade. Sentei numa mesa vazia. Logo chegou um outro candidato tb novo. Sentou-se comigo. Senti um certo ar de poder no seu jeito de falar. Ele achava que era melhor do que eu pq já havia trabalhado uma vez com o grupo. Mais 10 minutos. Chegaram alguns.
E então meus amigos.... eu não conseguirei mais descrever tão detalhadamente a seqüência dos fatos pq começou-se a falar alemão muuuuuito rápido e em tom de conversa de bar. Eu boiava totalmente no assunto e nenhum santo me perguntava o que eu estava fazendo lá para eu poder dizer todo o texto que ensaiei em casa, começando pela explicação de que ainda não entendo perfeitamente a Língua deles, etc etc etc. Não queria ser a louca inconveniente entrona que sai se apresentando. Fico irritada com quem sai se apresentando mesmo quando os outros não querem saber quem você é. E todos lá sabiam que eu era nova. Esperei o momento oportuno com maturidade externa e dor de barriga interna. Quem diria... já atuando nos meus primeiros minutos de reencontro com minha profissão. Não achei que seria tão rápido.
Depois de alguns minutos infinitos na difícil tarefa de aparentar simpatia facial, percebi que esperavam por mais pessoas. Ufa. Quer dizer que algo aconteceria quando o grupo estivesse completo. Aguardei. Aos poucos foram chegando mais membros: velhos e novos. Nesse intervalo de tempo uma moça bem simpática perguntou quem eu era. Ufa de novo. Pude finalmente falar meu texto para alguém. Mas quando o texto acabou e minha imensa capacidade de conversar espontaneamente em alemão não entrou em ação, chegou de novo o Silêncio. Nem respirar fundo eu podia. Era capaz de alguém ouvir e decifrar todos os meus pensamentos.
Grupo completo. Graças a Deus, pensei. Agora alguém vai tomar partido e iniciar essa reunião. E o que aconteceu? Subitamente mais da metade das pessoas se levantaram e foram fumar fora do bar. Socorro. Eu estava no limite. Não conseguiria suportar muito mais tempo.
Agora acaba essa primeira parte. Branco na cabeça. Não faço idéia do que exatamente aconteceu depois.
Passemos então para o momento mais desejado: As pessoas se apresentaram. Pude finafinafinalmente dizer que sou do Brasil, que sou atriz, que não entendo alemão direito, mas que gostaria de ajudar, conhecer mais o teatro na Alemanha etc etc etc e mais um etc...
O engraçado é que ninguém passou a falar devagar comigo. Não sei se bom ou ruim. Só registrei. Todo mundo me tratou como uma pessoa normal.

E então seguiu-se um planejamento: O grupo só voltará a atuar no segundo semestre e já tem apresentações marcadas para o fim de novembro. E como todo grupo reina a questão: O que montar? Engraçado que aqui nem se pensa em criação coletiva. São sempre textos famosos de grandes autores. O grupo tem 20 anos de existência e só 1 vez montou um espetáculo perto de uma criação coletiva: coletâneas de fragmentos de textos famosos.
Outro problema infelizmente comum: ONDE ensaiar? O grupo tem parceria com a universidade e discutiu-se uma boa parte do tempo que sala seria apropriada, quem poderia pedir a chave, mas e no fim de semana era permitido? Tudo isso foi lindo pra mim. Porque por alguns instantes eu me senti em um ambiente familiar. Será que eles também têm um Mestre Jaça?
Mas… como nenhuma alegria é eterna, voltamos aos diálogos particulares incompreensíveis. Pobres das minhas sinapses neurais. Trabalhavam a todo vapor numa luta desesperada por compreensão. E eu gastava minha cota mensal de simpatia facial. Em vão. Não entendia. Não falava. Simplesmente existia e sorria para disfarçar. Foi quando, por Deus, achei em cima da mesa um livro gigante lindo e organizado sobre o histórico do grupo, com textos (que não me serviam de nada) e muitas, mas muuuitas fotos. Mergulhei naquele objeto salvador e ali permaneci segura e escondida por no mínimo uns 25 minutos. Respirava novamente. Como é bom respirar. Como é bom ter uma ação física (Stanislavski tinha toda razão. Como é linda e humana a ação física). Captei um pouco da história do grupo pelas fotos. Meu Deus, quantos recursos. No Brasil esse seria um grupo profissional com certeza. Existem pessoas não atores que só cuidam da maquiagem, outras que só montam cenário, outras que só fazem iluminação. Folhei, refolhei, tentei até ler. E infelizmente o livro acabou. Já era hora.
Mergulhei de novo na batalha de estabelecer contato, já que tinha perdido a frágil ligação antes estabelecida. Na minha ausência, a mesa havia se dividido em 2 grupos e eu fiquei exatamente no meio. Como me infiltrar agora? Se já é difícil entender uma conversa toda, imagine só pegar um bonde andando. Foi quando percebi que os 3 novos estavam no grupo da esquerda. Ok. Vou com os iguais. Depois de alguns minutos de espremeção cerebral captei uma entonação não natural nas vozes. Sim, eles estavam atuando. E eu não entendia nada de nada pq estavam atuando no dialeto da Bavária. Aí é demais para o meu pobre cabeção. Captei ainda que aquilo pudesse ser uma demonstração insegura de novos candidatos para mostrar trabalho e capacidade. Uma espécie de tentativa de conquista de território. E foi então que senti como eu estava distante disso tudo. Nem sequer sabia o nome da última peça apresentada pelo grupo. Caí literalmente de pára-quedas naquela reunião. Não tive vontade de falar. Não falei. Resolvi esperar e com paciência conquistar meu espaço, quando as oportunidades surgirem. Se eles gostaram de mim? Não sei. Se vai dar certo? Não sei. Semana que vem nos encontraremos no mesmo local para ler um texto (Socorro... Shakespeare em alemão).
Apesar de tudo algo em mim está confiante, pois eu acredito que o teatro em sua essência é universal e que mais cedo ou mais tarde vamos falar na mesma Língua.
Por via das dúvidas é melhor não arriscar. Chegarei essa semana às 20:15.

Um comentário:

  1. Chicretinho vc é f..a, tenho muito orgulho e vc..... amo,amo,amo muito vc....

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