Não quero mais a neutralidade. Quero assumir minha realidade e me expor e vencer o medo de errar que bloqueia o movimento e a criação. Quero pecar por excesso.

Esse blog é isso. Um exercício de Libertação.








sábado, 13 de fevereiro de 2010

Encontro com o teatro alemão 2

Uma semana depois volto eu ao mesmo bar da semana passada. Desta vez o objetivo do encontro era: leitura de um texto que já foi montando pelo grupo, a fim de se encontrar um substituto para um dos personagens masculinos, que no momento está sem ator.
Mas antes... esqueci de dizer que confirmei minha entrada no grupo. No último fim de semana recebi um e-mail com o texto para ser impresso e com um pedido para eu checar se meus dados estavam corretos na página de endereços. EBAAA!
Dessa vez decidi não cair de pára-quedas e passei minha semana num trabalho artesanal de ler o texto chamado “Shakespeare 4 you” em alemão. Cada página consumia uma eternidade de minutos da minha vida. Na verdade, passava mais tempo lendo meu dicionário do que o próprio texto. Mas não importa, sabe por quê? Porque eu estava feliz. Que outra oportunidade eu teria de ler uma peça de teatro e aprender alemão ao mesmo tempo?
Mas... convenhamos: o negócio podia ser um pouquinho mais curto. Pior que nem tradução em inglês eu achei pela net, porque o autor é austríaco. Pausa. Devo admitir que nesse momento fui invadida por uma sensação de: Nossa como eu sou culta!! Li um autor austríaco, que escreveu Shakespeare em alemão. Sou de uma “culteza” invejável. hahaha
Voltando ao bar: quando a coisa tem um objetivo fica muito mais fácil e mais seguro de se vivenciar. Dessa vez não me senti um peixe fora da água. Não tive que sorrir para disfarçar minha insegurança e não tive que ficar com conversa mole de bar para fazer novas amizades. Eu já conhecia o texto e, além disso, era mera coadjuvante assistindo a luta dos 2 novos integrantes pelo personagem a ser substituído. Da minha posição confortável fiquei reparando como eles tremiam as mãos quando estavam lendo suas falas. Parênteses: NUNCA segure um papel quando você estiver nervoso. O negócio é tão incontrolável que se torna impossível disfarçar.
E mais uma vez, constatei universalidades do teatro: em qualquer lugar do mundo, o momento de distribuição de papéis é tenso. Na hora da verdade, instaura-se um silêncio quase patético e os olhares se evitam. Ninguém quer tomar partido e dizer logo o que realmente pensa. E... foi protelada a decisão para abril.
No segundo momento assistimos uma filmagem da penúltima peça do grupo. Bunbury (“A importância de ser honesto” em português)de Oscar Wilde. Não li, portanto não sei do que se trata. Também não entendi quase nada do texto (os próprios atores disseram que a acústica do vídeo é ruim). Mas...como diz o velho ditado: uma imagem vale por mil palavras!!! Assisti a história das imagens.
No começo foi divertido, entendi muito sobre o grupo e mesmo sobre os atores assistindo o espetáculo. Uma montagem bem tradicional. Mas depois de 1 hora, eu comecei a bocejar a cada 2 minutos e não conseguia controlar minha boca. Minha bunda já não encaixava mais na cadeira e minhas costas doíam. 1:20 de vídeo. Meu Deus do Céu. Eu já lembrava do Mallet com muita saudade: um tempo bom para duração de uma peça é aproximadamente 60 minutos. Para ter 1:30 ela tem que ser muito boa. Blackout. Eba. Senti um movimento no grupo e já peguei minha mochila. Todos se reajeitaram, mas ninguém levantou. Nãoooo. Era só um fade out. Começou outra cena. Soltei minha mochila disfarçadamente. 1 hora e 30 minutos de vídeo. Socorro. E se eu fingisse que meu celular tocou? 1:40. Uma atriz do grupo que não faz parte da peça pergunta para os outros: Quanto tempo ainda vai demorar? Estou um pouco cansada. Quase que eu voei do outro lado da mesa para dar um abraço de agradecimento nela. Aí veio a resposta: não sei, mas ainda vai longe. Quase cai da cadeira. O pior é que todo mundo gosta de se assistir (vai dizer que quando vc vê um álbum de fotos não observa com mais atenção as fotos que vc aparece?). Estava quase conformada. Nós iríamos até o fim. 1:50 e eu já não assistia mais nada, apenas dava o ar da graça da minha presença. Foi quando, por Deus, a garçonete entrou e avisou que o bar ia fechar. Aleluia irmão. Acho que nunca paguei uma conta tão feliz na minha vida. E enquanto isso a filmagem ainda rolava. E acho que rolaria muito mais. Desconfio que aquele seja um vídeo amaldiçoado, desses que duram pra sempre.
Bom... como tudo na vida pode ser útil de alguma forma, segue então a moral da história:
Por favor. Por favor, mesmo. Se você não for um gênio, não obrigue o público a assistir um espetáculo com mais de 1 hora e 30 minutos duração. Eu sei que é gostoso estar em cena, mas o pobre coitado que foi te assistir não tem culpa de nada. Depois de 1 hora, se o espectador não é mãe ou pai de algum dos artistas, ele só quer ir pra casa colocar seu pijaminha e fazer um lanchinho antes de dormir.
Voltei pra casa a pé porque sou incapaz de dirigir minha bicicleta na neve. A rua estava de novo com aquele silêncio assustador. Só ouvia o barulho dos meus próprios passos. Estava nevando uma neve tão fininha que, contra a luz, parecia chuva de porpurina. No meu trajeto que durou 30 minutos, pra não dizer que não vi uma alma na rua, encontrei um bêbado no caminho. E ele era o bêbado mais silencioso que eu já vi. Passaram dois carros. DOIS e nada mais. Cheguei cansada, porém satisfeita. Apesar do vídeo sem fim, a noite foi produtiva e eu consegui sair de casa para entrar um pouco mais no mundo alemão.




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