Não quero mais a neutralidade. Quero assumir minha realidade e me expor e vencer o medo de errar que bloqueia o movimento e a criação. Quero pecar por excesso.

Esse blog é isso. Um exercício de Libertação.








quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Sobre as estações... mais uma vez

Engraçado... eu achava que essa história de ficar falando das estações do ano, da primavera, da natureza e tal era coisa de poeta ou escritor sem assunto.
E agora me flagro fazendo talvez meu terceiro ou quarto Post falando sobre esse assunto. Acontece que aqui na Europa se vive de fato as mudanças da natureza e as estações são infinitamente diferentes uma da outras, de forma que não é possível sair ileso ou passar desapercebido por elas. O que não impede, muitas vezes, de você constatar a mudança mas esquecer de desfrutá-la. E é sobre isso que eu queria falar. Sobre a eterna insatisfação humana. UAU.
Tudo isso porque eu ando muito ansiosa para ver logo a neve sumir e a primavera chegar. Faço milhares de planos: esse ano vou prestar mais atenção no colorido, vou tomar mais sol na beira do rio, vou deixar-me deslumbrar. E de repente, quando a estação chega, eu mergulho numa cegueira cotidiana e esqueço de ter cortesia pelo que vejo, de sair de casa simplesmente para contemplar.
É triste constatar, mas acho que o período que mais desfruto a primavera é durante o inverno, na minha memória saudosa. E fico me perguntando do que será que, no verão, sentirei falta do inverno? É verdade que ele tem suas vantagens, como por exemplo, servir de desculpas para não ir na academia. Mas nada que no momento eu consiga achar que vou sentir saudades.
Por que será que é tão difícil estar presente no presente?
Minha mãe disse que meu pai disse que não vê a hora de chegar aqui no frio, porque o Brasil está um bafo insuportável. E eu penso: queria eu estar no bafo.

E repenso: Queria mesmo?

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Jaquelina em POPOKERFACE

Dedicado ao meu amigo Douglas :)

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

E-mail feliz

17.02.2010

Oi Mama
Segue a listinha das coisas pro papai trazer na mala:
* 4 sacos de café pro Tato dar para o pessoal do departamento
* 2 latas de doce de leite e 2 de leite condensado (consumo próprio)
ps: Não mande goiabada, descobrimos que eles odeiam.
* minha pasta de recortes de teatro
*minha roupa de clown: par de sapato vermelho gigante e conjuntinho (shorts e biquininho) amarelo felpudo
* um nariz de palhaço
* Ahhh e se for possível e naõ muito caro, eu estou precisando também de uma peruca blackpower. Minha antiga ficou em Barão e já está muito destruída.

Amo vocês
Jaque


Maravilhoso!!! Alguém sabe o que isso tudo significa?

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Um momento

Manhã corrida. Despertador tocou atrasado. Pulou da cama. Voou para a cozinha sem chinelo no pé. Engoliu o café da manhã. Vestiu-se num relâmpago. Entrou no banheiro para escovar os dentes. Foi quando, por algum bendito motivo qualquer, ela apertou PAUSE e se econtrou no espelho:
-Nossa (assustou)... quanto tempo que eu não te vejo.
-Pois é. Estava com saudades de mim.
Sorriram uma para a outra.
-Tenha um bom dia!
-Obrigada!
PLAY. Pegou a mochila, a chave de casa e saiu na velocidade da Luz.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Alô Alô carnaval, aquele abraço!!!

Alguém sabe me dizer por que é que até hoje eu ainda não desfilei em uma escola de samba?
Que desaforo. Assim que eu voltar pro Brasil, no primeiro carnaval, que será em 2013, estarei linda na avenida. Pode anotar. E de São Paulo, porque eu quero coisa grande.
Quem quiser pode vir comigo. A Mari já se alistou.
Vamos festejar as nossas tradições!!!

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Mais um pouco de Clarice Lispector

Pedaços da crônica: Medo da Libertação

"(...)
Coragem e covardia são um jogo que se joga a cada instante. (...) O hábito que temos de olhar através das grades da prisão, o conforto que traz segurar com as duas mãos as barras frias de ferro. A covardia nos mata. Pois há aqueles para os quais a prisão é a segurança, as barras um apoio para as mãos. Então reconheço que conheço poucos homens livres.
(...)"


É incrível como esses textos têm me ajudado a vencer meus medos e ir atrás do que eu quero.

Encontro com o teatro alemão 2

Uma semana depois volto eu ao mesmo bar da semana passada. Desta vez o objetivo do encontro era: leitura de um texto que já foi montando pelo grupo, a fim de se encontrar um substituto para um dos personagens masculinos, que no momento está sem ator.
Mas antes... esqueci de dizer que confirmei minha entrada no grupo. No último fim de semana recebi um e-mail com o texto para ser impresso e com um pedido para eu checar se meus dados estavam corretos na página de endereços. EBAAA!
Dessa vez decidi não cair de pára-quedas e passei minha semana num trabalho artesanal de ler o texto chamado “Shakespeare 4 you” em alemão. Cada página consumia uma eternidade de minutos da minha vida. Na verdade, passava mais tempo lendo meu dicionário do que o próprio texto. Mas não importa, sabe por quê? Porque eu estava feliz. Que outra oportunidade eu teria de ler uma peça de teatro e aprender alemão ao mesmo tempo?
Mas... convenhamos: o negócio podia ser um pouquinho mais curto. Pior que nem tradução em inglês eu achei pela net, porque o autor é austríaco. Pausa. Devo admitir que nesse momento fui invadida por uma sensação de: Nossa como eu sou culta!! Li um autor austríaco, que escreveu Shakespeare em alemão. Sou de uma “culteza” invejável. hahaha
Voltando ao bar: quando a coisa tem um objetivo fica muito mais fácil e mais seguro de se vivenciar. Dessa vez não me senti um peixe fora da água. Não tive que sorrir para disfarçar minha insegurança e não tive que ficar com conversa mole de bar para fazer novas amizades. Eu já conhecia o texto e, além disso, era mera coadjuvante assistindo a luta dos 2 novos integrantes pelo personagem a ser substituído. Da minha posição confortável fiquei reparando como eles tremiam as mãos quando estavam lendo suas falas. Parênteses: NUNCA segure um papel quando você estiver nervoso. O negócio é tão incontrolável que se torna impossível disfarçar.
E mais uma vez, constatei universalidades do teatro: em qualquer lugar do mundo, o momento de distribuição de papéis é tenso. Na hora da verdade, instaura-se um silêncio quase patético e os olhares se evitam. Ninguém quer tomar partido e dizer logo o que realmente pensa. E... foi protelada a decisão para abril.
No segundo momento assistimos uma filmagem da penúltima peça do grupo. Bunbury (“A importância de ser honesto” em português)de Oscar Wilde. Não li, portanto não sei do que se trata. Também não entendi quase nada do texto (os próprios atores disseram que a acústica do vídeo é ruim). Mas...como diz o velho ditado: uma imagem vale por mil palavras!!! Assisti a história das imagens.
No começo foi divertido, entendi muito sobre o grupo e mesmo sobre os atores assistindo o espetáculo. Uma montagem bem tradicional. Mas depois de 1 hora, eu comecei a bocejar a cada 2 minutos e não conseguia controlar minha boca. Minha bunda já não encaixava mais na cadeira e minhas costas doíam. 1:20 de vídeo. Meu Deus do Céu. Eu já lembrava do Mallet com muita saudade: um tempo bom para duração de uma peça é aproximadamente 60 minutos. Para ter 1:30 ela tem que ser muito boa. Blackout. Eba. Senti um movimento no grupo e já peguei minha mochila. Todos se reajeitaram, mas ninguém levantou. Nãoooo. Era só um fade out. Começou outra cena. Soltei minha mochila disfarçadamente. 1 hora e 30 minutos de vídeo. Socorro. E se eu fingisse que meu celular tocou? 1:40. Uma atriz do grupo que não faz parte da peça pergunta para os outros: Quanto tempo ainda vai demorar? Estou um pouco cansada. Quase que eu voei do outro lado da mesa para dar um abraço de agradecimento nela. Aí veio a resposta: não sei, mas ainda vai longe. Quase cai da cadeira. O pior é que todo mundo gosta de se assistir (vai dizer que quando vc vê um álbum de fotos não observa com mais atenção as fotos que vc aparece?). Estava quase conformada. Nós iríamos até o fim. 1:50 e eu já não assistia mais nada, apenas dava o ar da graça da minha presença. Foi quando, por Deus, a garçonete entrou e avisou que o bar ia fechar. Aleluia irmão. Acho que nunca paguei uma conta tão feliz na minha vida. E enquanto isso a filmagem ainda rolava. E acho que rolaria muito mais. Desconfio que aquele seja um vídeo amaldiçoado, desses que duram pra sempre.
Bom... como tudo na vida pode ser útil de alguma forma, segue então a moral da história:
Por favor. Por favor, mesmo. Se você não for um gênio, não obrigue o público a assistir um espetáculo com mais de 1 hora e 30 minutos duração. Eu sei que é gostoso estar em cena, mas o pobre coitado que foi te assistir não tem culpa de nada. Depois de 1 hora, se o espectador não é mãe ou pai de algum dos artistas, ele só quer ir pra casa colocar seu pijaminha e fazer um lanchinho antes de dormir.
Voltei pra casa a pé porque sou incapaz de dirigir minha bicicleta na neve. A rua estava de novo com aquele silêncio assustador. Só ouvia o barulho dos meus próprios passos. Estava nevando uma neve tão fininha que, contra a luz, parecia chuva de porpurina. No meu trajeto que durou 30 minutos, pra não dizer que não vi uma alma na rua, encontrei um bêbado no caminho. E ele era o bêbado mais silencioso que eu já vi. Passaram dois carros. DOIS e nada mais. Cheguei cansada, porém satisfeita. Apesar do vídeo sem fim, a noite foi produtiva e eu consegui sair de casa para entrar um pouco mais no mundo alemão.




sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

2 notas quase curtas

Na Alemanha não se pode usar meia furada no dedão porque quando se vai à casa de outras pessoas é comum, praticamente regra, que se tire os sapatos na porta.
Acabei de pensar que fazemos isso no Brasil, na sala de ensaio de teatro. Esse ato de despir-se, deixar a sujeira para fora é como um tipo de preservação do sagrado, da integridade do lar ou da sala de ensaio.
Tá... mais eu só queria mesmo dizer que aqui é proibido ter meia furada. E já dizendo mais uma coisa que eu não tinha programado de dizer é que eu tenho uma meia de dedos de pé furada nos 2 dedões (talvez porque eles sejam gigantes), que eu me recuso a jogar fora e insisto em usar quando estou em casa só para me sentir uma fora-da-lei.
E mais uma coisa. Essa eu tinha programado escrever: Aqui se pode assoar o nariz em público fazendo barulho. Na verdade, quanto mais alto e mais escandaloso melhor. Você vai ser considerado uma pessoa normal. Vale também em restaurante enquanto seu coleguinha estiver comendo.

Santas diferenças culturais. Inútil tentar entender. O negócio é dançar conforme a música. E no aconchego secreto do lar ouvir um sambão, bem bateria de escola de samba, pra não esquecer o que é bom!!!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Há coisas que não explicamos!

O Silêncio da neve

Quando neva faz um silêncio que se nota. Aliás a Alemanha, principalmente no inverno, é de um silêncio inimaginável para um brasileiro. Às vezes incomôdo, às vezes aconchegante.
Nevar é chover sem barulho. Talvez por isso que o silêncio cresce. É de uma leveza inspirante (me refiro à respiração mesmo, mas se você quiser, também cabe inspiração poética).

Tomar chuva de neve é lavar a alma sem se molhar. Como uma refinada lavagem à seco.
Deus é de uma delicadeza magnífica. Alguém já viu um floco artístico de perto? Se eu não soubesse que Deus é perfeito, diria que Ele tem um quê de virtuose.


sábado, 6 de fevereiro de 2010

Aprendendo a viver - crônica de Clarice Lispector

Com toda licença, recortarei meus pedaços favoritos:



"Thoreau era um filósofo americano que (...) escreveu muitas coisas que talvez possam nos ajudar a viver de um modo mais inteligente, mais eficaz, mais bonito, menos angustiado.
Thoreau desolava-se vendo seus vizinhos só pouparem e economizarem para um futuro longínguo. Que se pensasse um pouco no futuro, estava certo. Mas "melhore o momento presente", exclamava. E acrescentava: "Estamos vivos agora". E comentava com desgosto: " Eles ficam juntando tesouros que as traças e a ferrugem irão roer e os ladões irão roubar."
A mensagem é clara: Não sacrifique o dia de hoje pelo dia de amanhã. Se você se sente infeliz agora. Tome alguma providência agora, pois só na sequência dos agoras é que você existe.
Cada um de nós, aliás, fazendo um exame de consciência, lembra-se pelo menos de vários agoras que foram perdidos e que não voltarão mais. Há momentos na vida que o arrependimento de não ter tido ou não ter sido ou não ter resolvido ou não ter aceito, há momentos na vida em que o arrependimento é profundo como uma dor profunda.
Ele queria que fizéssemos agora o que queremos fazer. A vida inteira Thoreau pregou e praticou a necessidade de fazer o que é mais importante para cada um de nós.
(...)
Impacientava-se também com os que gastam tanto tempo estudando a vida que nunca chegam a viver. "É só quando esquecemos todos os nossos conhecimentos que começamos a saber."
E dizia essa coisa forte que nos enche de coragem: "Por que não deixamos penetrar a corrente, abrimos os portões e pomos em movimento toda a nossa engrenagem?" Só em pensar em seguir o seu conselho, sinto uma corrente de vitalidade percorrer-me o sangue. Agora, meus amigos, está sendo nesse póprio instante.
Thoreau achava que o medo era a causa da ruína dos nossos momentos presentes. E também as assustadoras opiniões que nós temos de nós mesmos. Dizia ele: "A opinião pública é uma tirana débil, se comparada à opinião que temos de nós mesmos." É verdade: mesmo as pessoas cheias de segurança aparente julgam-se tão mal que no fundo estão alamardas. E isso, na opinião de Thoreau, é grave, "pois o que um homem pensa a respeito de si mesmo determina, ou melhor, revela seu destino."
E, por mais inesperado que isso seja, ele dizia: tenha pena de si mesmo. Isso quando se levava uma vida de desespero passivo. Ele então aconselhava um pouco menos de dureza para com eles próprios. O medo faz, segundo ele, ter-se uma covarida desnecessária. Nesse caso devia-se abrandar o julgamento de si próprio. " Creio" escreveu " que podemos confiar em nós mesmo muito mais do que confiamos. A natureza adapta-se tão bem à nossa fraqueza quanto à nossa força." E repetia mil vezes aos que complicavam inutilmente as coisas- e quem de nós não daz isso?- como eu ia dizendo, ele quase gritava com quem complicava as coisas: Simplifique! Simplifique!
E um dia desses (...) deparei com um artigo com citações de Bernanos (...).
(...) ele procurava a salvação pelo risco- sem o qual a vida não vale a pena- e não pelo encolhimento senil, que não é só dos velhos, é de todos os que defendem as suas posições, inclusive ideológicas, inclusive religiosas.
Para Bernanos, dizia o artigo, o maior pecado sobre a terra era a avareza, sob todas as formas. "A avareza e o tédio danam o mundo." "Dois ramos, enfim, do egoísmo", acrescenta o autor do artigo.
Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena.
Feliz ano novo."

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(A Clarice publicou esse conto no dia 28 de dezembro de 1968)

Estabelecendo contato com o teatro alemão

Descobri através da Net (Siiiimmm, internet pode ser muito útil se vc direcionar sua navegação e não ficar 5 horas no Orkut vasculhando a vida dos outros ou jogando Colheita Feliz, um jogo instrutivíssimo) que um grupo de teatro de Freising estava procurando por novos membros: Se você estiver interessado simplesmente apareça na quinta no bar tal às 20:00. Estava lá: A oportunidade piscando com luzes vermelhas de néon!!! Não tive como achar uma desculpa para não ir.
Então fui. Não só fui como fui a primeira a chegar. Péssimo. Mas tive a primeira descoberta: os alemães teatrais não são tão pontuais como os outros alemães. A dona do bar, uma mulher gorda comendo um prato de massa bem amarela, falou que eu esperasse, pois logo eles chegariam. Pedi então uma cerveja de trigo (Weiss Bier) para ter uma ação física que sustentasse minha ansiedade. Sentei numa mesa vazia. Logo chegou um outro candidato tb novo. Sentou-se comigo. Senti um certo ar de poder no seu jeito de falar. Ele achava que era melhor do que eu pq já havia trabalhado uma vez com o grupo. Mais 10 minutos. Chegaram alguns.
E então meus amigos.... eu não conseguirei mais descrever tão detalhadamente a seqüência dos fatos pq começou-se a falar alemão muuuuuito rápido e em tom de conversa de bar. Eu boiava totalmente no assunto e nenhum santo me perguntava o que eu estava fazendo lá para eu poder dizer todo o texto que ensaiei em casa, começando pela explicação de que ainda não entendo perfeitamente a Língua deles, etc etc etc. Não queria ser a louca inconveniente entrona que sai se apresentando. Fico irritada com quem sai se apresentando mesmo quando os outros não querem saber quem você é. E todos lá sabiam que eu era nova. Esperei o momento oportuno com maturidade externa e dor de barriga interna. Quem diria... já atuando nos meus primeiros minutos de reencontro com minha profissão. Não achei que seria tão rápido.
Depois de alguns minutos infinitos na difícil tarefa de aparentar simpatia facial, percebi que esperavam por mais pessoas. Ufa. Quer dizer que algo aconteceria quando o grupo estivesse completo. Aguardei. Aos poucos foram chegando mais membros: velhos e novos. Nesse intervalo de tempo uma moça bem simpática perguntou quem eu era. Ufa de novo. Pude finalmente falar meu texto para alguém. Mas quando o texto acabou e minha imensa capacidade de conversar espontaneamente em alemão não entrou em ação, chegou de novo o Silêncio. Nem respirar fundo eu podia. Era capaz de alguém ouvir e decifrar todos os meus pensamentos.
Grupo completo. Graças a Deus, pensei. Agora alguém vai tomar partido e iniciar essa reunião. E o que aconteceu? Subitamente mais da metade das pessoas se levantaram e foram fumar fora do bar. Socorro. Eu estava no limite. Não conseguiria suportar muito mais tempo.
Agora acaba essa primeira parte. Branco na cabeça. Não faço idéia do que exatamente aconteceu depois.
Passemos então para o momento mais desejado: As pessoas se apresentaram. Pude finafinafinalmente dizer que sou do Brasil, que sou atriz, que não entendo alemão direito, mas que gostaria de ajudar, conhecer mais o teatro na Alemanha etc etc etc e mais um etc...
O engraçado é que ninguém passou a falar devagar comigo. Não sei se bom ou ruim. Só registrei. Todo mundo me tratou como uma pessoa normal.

E então seguiu-se um planejamento: O grupo só voltará a atuar no segundo semestre e já tem apresentações marcadas para o fim de novembro. E como todo grupo reina a questão: O que montar? Engraçado que aqui nem se pensa em criação coletiva. São sempre textos famosos de grandes autores. O grupo tem 20 anos de existência e só 1 vez montou um espetáculo perto de uma criação coletiva: coletâneas de fragmentos de textos famosos.
Outro problema infelizmente comum: ONDE ensaiar? O grupo tem parceria com a universidade e discutiu-se uma boa parte do tempo que sala seria apropriada, quem poderia pedir a chave, mas e no fim de semana era permitido? Tudo isso foi lindo pra mim. Porque por alguns instantes eu me senti em um ambiente familiar. Será que eles também têm um Mestre Jaça?
Mas… como nenhuma alegria é eterna, voltamos aos diálogos particulares incompreensíveis. Pobres das minhas sinapses neurais. Trabalhavam a todo vapor numa luta desesperada por compreensão. E eu gastava minha cota mensal de simpatia facial. Em vão. Não entendia. Não falava. Simplesmente existia e sorria para disfarçar. Foi quando, por Deus, achei em cima da mesa um livro gigante lindo e organizado sobre o histórico do grupo, com textos (que não me serviam de nada) e muitas, mas muuuitas fotos. Mergulhei naquele objeto salvador e ali permaneci segura e escondida por no mínimo uns 25 minutos. Respirava novamente. Como é bom respirar. Como é bom ter uma ação física (Stanislavski tinha toda razão. Como é linda e humana a ação física). Captei um pouco da história do grupo pelas fotos. Meu Deus, quantos recursos. No Brasil esse seria um grupo profissional com certeza. Existem pessoas não atores que só cuidam da maquiagem, outras que só montam cenário, outras que só fazem iluminação. Folhei, refolhei, tentei até ler. E infelizmente o livro acabou. Já era hora.
Mergulhei de novo na batalha de estabelecer contato, já que tinha perdido a frágil ligação antes estabelecida. Na minha ausência, a mesa havia se dividido em 2 grupos e eu fiquei exatamente no meio. Como me infiltrar agora? Se já é difícil entender uma conversa toda, imagine só pegar um bonde andando. Foi quando percebi que os 3 novos estavam no grupo da esquerda. Ok. Vou com os iguais. Depois de alguns minutos de espremeção cerebral captei uma entonação não natural nas vozes. Sim, eles estavam atuando. E eu não entendia nada de nada pq estavam atuando no dialeto da Bavária. Aí é demais para o meu pobre cabeção. Captei ainda que aquilo pudesse ser uma demonstração insegura de novos candidatos para mostrar trabalho e capacidade. Uma espécie de tentativa de conquista de território. E foi então que senti como eu estava distante disso tudo. Nem sequer sabia o nome da última peça apresentada pelo grupo. Caí literalmente de pára-quedas naquela reunião. Não tive vontade de falar. Não falei. Resolvi esperar e com paciência conquistar meu espaço, quando as oportunidades surgirem. Se eles gostaram de mim? Não sei. Se vai dar certo? Não sei. Semana que vem nos encontraremos no mesmo local para ler um texto (Socorro... Shakespeare em alemão).
Apesar de tudo algo em mim está confiante, pois eu acredito que o teatro em sua essência é universal e que mais cedo ou mais tarde vamos falar na mesma Língua.
Por via das dúvidas é melhor não arriscar. Chegarei essa semana às 20:15.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Mudei o nome de novo.

Desculpe caro leitor. Pausa. Não gostei. Leitor me soa muito fora da realidade, pq afinal quem me lê são meus amigos. Quando escrevo leitor sinto um quê de famosidade que não existe. Objetividade e pé no chão.
Então recomeço: Desculpe caro amigo, mas eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.
Cada fase que vivo me transforma e os nomes rapidamente ficam ultrapassados. Não significa que eu não sinta mais saudades e não seja mais Desabafos da Saudadelina (o velho nome do blog).
Mas nesse momento.... sou mais uma JaquelinE 25 lutando para viver (e deixando um pouco de lado a JaquelinA atrapalhada. Ou tentando deixar.). Estou em guerra. Com meus medos. Com as forças que me oprimem.
25 pq fiz 25 anos e senti o peso da idade.
Toda troca de fase dói demais. Acho que estou entrando em um novo ciclo. Ou lutando para entrar, pq se dependesse da minha força estática, ficaria gostosinha para sempre escondida na minha toca-apartamento e no aconchego da idéia de que os Geraldos estão me esperando e que quando eu voltar pro Brasil tudo estará como antes. Então se pausa 4 anos da vida? Para-se tudo simplismente? A vida é muito curta para PAUSAR. Por isso resolvi tentar viver de verdade nesse novo mundo. O que significa fazer coisas. Trabalhar, procurar meu teatro, fazer amigos, etc... Quero viver de verdade aqui na Alemanha e não fazer de conta que vivo na Alemanha, enquanto passo o dia inteiro pensando no Brasil e navegando pelo Brasil através dessa coisa chamada internet, que é a minha praga e a minha salvação.
Bem... nessa luta, tenho a imensa sorte de não estar sozinha. Me acompanham bem de perto: Deus, meu marido e Clarice Lispector (A Descoberta do Mundo- meu livro de cabeceira nesse ano de 2010. Engraçado ou não o nome combina com minha nova fase). Meus 3 pontos de apoio nesse momento. Minha base tripé.
É incrível como tenho precisado de Deus. Acho que sem ele eu não teria coragem. Mas se ele está comigo nada pode sair errado.
Percebi que meu medo de me machucar estava me machucando. Então pulei e estou nesse momento em queda-livre sem saber o que me espera lá em baixo. Mas sei que independente do que for, é vida que me espera. Algo novo vai chegar dessa tempestade toda. Tudo o que é novo dói no começo, mas acredito que com o tempo se acostuma e com mais um pouco de tempo ainda se gosta. Desfruta-se.
Ontem fui conhecer um grupo de teatro da cidade, que está procurando novos membros. Segunda tenho uma reunião muito importante, que não posso dizer o que é, pq aprendi com o Tato, que só se fala as coisas depois que elas dão certo.
E paro aqui.
Meu encontro com o grupo alemão será um capítulo a parte, pq afinal eu preciso registrar em detalhes a descoberta do meu TEATRO no mundo.
Volto logo. É chegada a hora de arrumar a cozinha.