Não quero mais a neutralidade. Quero assumir minha realidade e me expor e vencer o medo de errar que bloqueia o movimento e a criação. Quero pecar por excesso.

Esse blog é isso. Um exercício de Libertação.








domingo, 30 de maio de 2010

Feira Medieval






Feira Medieval!

Uma viagem no tempo por 12 euros!!! Mais barato que promoção da Ryanair.
Visitei esse fim de semana uma feira medieval na mata ao lado do meu lago de verão, aqui em Freising.
Assim que entrei, fui transportada no tempo. A maioria das pessoas, inclusive os visitantes, usava roupas medievais. Eu, de shorts jeans, uma camiseta escrita com letras verde-limão "It's good to be green" e minha monstruosa máquina fotográfica de turista, destoava do ambiente como fantasia de carnaval dentro da igreja.
Escondi-me atrás dos meus óculos escuros super cool de Amsterdam e, ao som de uma gaita de fole, perambulei pelo acampamento de tendas e lojinhas medievais, que vendiam desde peles de animais, couro e poções mágicas até espadas e escudos. Perdi-me entre a fumaça das várias fogueiras de famílias fantasiadas, que assavam porcos inteiros no rolete e bebiam vinho nos seus vasos de barro ou copos chifre-de-bicho.
Vez ou outra, a multidão de personagens saídos diretamente dos meus livros de história de ginásio, alvoroçava-se diante da luta de espadas de homens com armaduras.
O torneio de cavalos foi bem teatrão. Achei mais divertido observar o próprio público que se confundia com os personagens da apresentação. Todos se vestiam a caráter. Era como se o limite palco-platéia fosse borrado e não se pudesse distinguir quem era quem. Famílias inteiras com roupas de algodão-cru carregavam arcos e flechas nas costas. Será que na vida real aquele pai usa terno e gravata para trabalhar?
Foi impressionante!
Não sei se esse encanto foi porque nunca vi nada igual no nosso Brasil jovem tropical ou se realmente a feira tinha um quê de verdade. Sei que ao olhar aquelas velhas senhoras trabalhando em máquinas de tear antiqüíssimas e aqueles homens de cabelos compridos, todos tatuados usando armaduras e carregando espadas pesadas, senti-me dentro de um cenário de filme medieval.
É uma grande festa temática, onde todo mundo finge que vive em outra época. E apesar de eu não entender bem o significado disso tudo, fiquei morrendo de vontade de participar. Eu adoro teatro e essas coisas de faz-de-conta!










Copo chifre de bicho.... ECAAA











Uma das várias famílias que fazem parte da feira.



Visitantes a caráter! Povo doido hein?

sábado, 22 de maio de 2010

Mais coisas daqui

Restaurantes:
* Toda mesa possui uma vela acesa para enfeitar.
* Os cachorros são permitidos e deitam no chão ao lado do dono. Em alguns lugares mais chics, são até servidos com aguinha.
* Ao brindar deve-se olhar nos OLHOS do outro.
* Na Bavária cerveja é considerada comida.
* É costume dar uma gorjetinha a mais do que o valor da conta para a garçonete.
* Você tem a opção pagar junto ou separado. A garçonete cobra na própria mesa e vc recebe seu troco belezinha. Aqui não existe aquela conta desastrosa de bar, quando vc vai com seus 20 amigos beber e, no fim, depois que todos já deram sua parte, ainda faltam 80 reais. Os alemães não conhecem a caça por moedas e nem os espertinhos q foram embora mais cedo sem pagar.

Supermercados:
* Leve sua própria cestinha de compras ou pague 0.10 centavos por sacolinha!
* Empreste o carrinho por 1 euro e se vc devolvê-lo no mesmo local, pega sua moedinha de volta. A opção é sua: deixá-lo largado no estacionamento ou ganhar 1 euro!
* Guarde sua garrafa Pet. Ela vale dinheiro se devolvida na máquina de reciclar do super.

Lar:
* As portas das casas travam automaticamente por fora. Ou seja, se vc fechar a chave para dentro está encrencado! Ainda mais se for inverno e vc só saiu de pijama para levar o lixo. Prepare então o seu bolso. Serviço de chaveiro é bem caro e morrem aprox. 100 euros com essa brincadeira.
* Os prédios tem uma área de lavanderia em comum. A sua máquina de lavar, geralmente, não fica dentro da sua própria casa. O mais legal é a segurança. Vc pode esquecer por 1 mês suas roupas no varal coletivo, que quando lembrar elas ainda estarão lá. PS: Vale secar calcinhas e cuecas no aquecedor da sua sala.
* Os travesseiros são verdadeiros monstros gigantescos.
* Quase não se acha edredom de casal. Cada um com o seu!
* Nada de andar de sapatos em casa. Eles ficam do lado de fora da porta. Talvez por isso que as meias coloridas sejam infinitamente mais populares.
* Separação do lixo para reciclagem: obrigatória. Penalidade: Multa.
* As crianças pedem permissão para seus pais para ver TV. Não é oba oba liberado o tempo todo.

Comidas:
* A carne de porco é muito saborosa e não tem nada a ver com a do Brasil.
* A mussarela não é nossa borracha amarela, e sim de búfala.
* Aqui a nova onda de fineza é comer produtos BIO.

Aleatoriedades:
* Os velhos vão na academia e tomam cerveja no café.
* TODO MUNDO anda de bike.
* Só se cumprimenta alguém com abraço e beijo quando essa pessoa for realmente seu amigo.
* Os alemães engolem livros tijolos 10 vezes mais grossos do que a Bíblia sem mastigar! PS: Os livros aqui não são caros como no Brasil.
* Assoar o nariz bem alto - ok.

* Beijar na balada - Não ok.
* Os cães tem RG e vão na escola.
* Os biquínis são gigantescos na bunda. Em compensação, na sauna só entra quem estiver peladão. PS: Elas são, quase sempre, mix.

terça-feira, 18 de maio de 2010

O diário de Anne Frank

Escrevo abaixo um trechinho do diário de Anne. Para quem não conhece, ela era uma menina judia, que durante a Segunda Guerra, escondeu-se com sua família e mais outra família judia aos fundos de um estabelecimento comercial em Amsterdam. Ficaram de julho de 1942 até agosto de 1944, quando foram descobertos e levados para campos de concentração.
Quando escreveu essa página estava com 14 anos.
A história é real e o diário também. É de se espantar a maturidade dessa criança, que chega a causar dúvidas quanto a autencidade do livro. Mas nunca se sabe... às vezes a menina era realmente inteligente e uma condição de vida precária como essa a fez amadurecer muito rápido. E acho também que os tradutores podem ter enfeitado um pouco a linguagem simples infantil.
Enfim, autêntico ou não, essa passagem me tocou muito. Peter é o filho da outra família, com a qual dividem o pequeno esconderijo. Depois de um ano e meio sem pisar na rua, sem sentir o calor do sol na pele, trancafiada no esconderijo, ela foi capaz de escrever:

Quarta-feira 23 de fevereiro de 1944


Querida Kitty (é o nome que ela deu ao diário)
Lá fora o tempo está lindo e, desde ontem, sinto-me bem mais animada. Quase todas as manhãs vou à água-furtada onde Peter trabalha, para limpar meus pulmões, livrando-os do ar confinado. De meu lugarzinho favorito no chão, contemplo o céu azul e o castanheiro despido, em cujos galhos as gotinhas de chuva brilham feito prata, e as gaivotas e pássaros a deslizar no vento.
Peter encostou a cabeça em uma viga, e eu fiquei sentada. Respirávamos aquele ar fresco, olhávamos para fora e sentíamos que qualquer palavra quebraria o encantamento. Assim ficamos durante longo tempo e, quando ele precisou subir ao sótão para rachar lenha, eu já sabia que ele era um bom rapaz. Subi com ele; passou uns quinze minutos rachando lenha, e durante esse tempo ficamos em silêncio. (...) Fiquei olhando, também, através da janela, para uma vasta área de Amsterdam, para além dos telhados, para o horizonte de um azul tão pálido que se tornava difícil distinguir a linha divisória. E eu pensei: "Enquanto existir isso, enquanto eu estiver viva e puder contemplar este sol e este céu sem nuvens, enquanto isto existir, não poderei ser infeliz".
O melhor remédio para os que sentem medo, solidão ou infelicidade é ir para um lugar ao ar livre, onde possam estar sozinhos com o céu, a natureza e Deus. Só então a gente sente que tudo está como deve estar e que Deus nos quer ver felizes na beleza simples da natureza. Enquanto isto existir - e certamente existirá-, sei que sempre haverá consolação para todas as tristezas, sejam quais forem as circunstâncias. Acredito firmemente que a natureza traz alívio para todas as aflições. (...)
Um pensamento: Sentimos falta de tanta coisa, aqui! Não falo das coisas exteriores, pois quanto a estas, há quem olhe por nós. Falo das interiores. Anseio por liberdade e ar livre, mas vejo agora que recebemos amplas compensações pelo que nos falta. Compreendi isto de repente, esta manhã, enquanto estava sentada ali, em frente à janela. Falo de compensação interior.
Ao olhar para fora, para a profundeza de Deus e da natureza, senti-me feliz, realmente feliz. (...)
As riquezas podem perder-se, esta felicidade que vem do próprio coração pode velar-se, mas nunca deixará de existir enquanto a vida durar. Enquanto se puder olhar sem temor para os céus, enquanto soubermos que somos puros de coração, teremos sempre a felicidade em nós.
Sua Anne


Aqui sou eu de novo. Isso é uma puta lição de moral para nós, eternos insatisfeitos! Posso dizer por mim: quando leio algo assim, ainda mais quando levo em conta a situação horrível de quem escreveu, sinto-me envergonhada das minhas reclamações tão pequenas e mesquinhas.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Sobre quem fingimos que somos

Mais trechos de Lições de Abismo.


"Tempos atrás observei o auditório do Père Lebret, que por aqui andou pregando sua economia e Humanismo. Ali estavam diversas senhoras atentas. Tinham ido à conferência do padre. Saboreavam agora a boa, a sólida conquista dessas duas horas bem etiquetadas (Conferência do Père Lebret). Mas a que ficou em casa, quando lhe disseram no dia seguinte que Dulce e Marta tinham ido à conferência, sentir-se-á diminuída.
O conferencista que não se iluda: a maioria das pessoas ali presentes só quer de sua doutrina o mesmo que das cadeiras: um encosto, um contato, um remédio contra a solidão. O conferencista, suas teses, suas conclusões, são como sinais, fraldas ao topo do mastro de uma jangada perdida. O que importa, soberanamente, na conferência do Père Lebret, é o direito de dizer nos dias seguintes:
-Ontem, na conferência do Lebret....
(...)
Disse atrás que Pascal explica a maior parte das viagens pelo desejo de buscar assunto e alimento para a vaidade. Viaja-se para obter um diploma, como o de bacharel; ou para aumentar o reservatório de temas. Viaja-se para voltar com carimbos na mala, e com vulcões na memória.
Posso imaginar o aventureiro retilíneo que faça exceção, mas não duvido que o caso geral seja este de quem parte para voltar, para trazer a personalidade engrossada.
Mas essa mesma idéia, como tudo o que é do homem, tem duas faces. Acho belíssima essa voracidade do homem, e essa capacidade de trazer para casa, para a sala-de-estar, sob as espécies de assunto, as guerras, os terremotos, os ciclones. Por outro lado, porém, acho lúgubre (triste, medonho) essa avidez (ambição) de engrossar por fora a ganga do eu, numa capitulação (rendição) da maior das aventuras, que é a conquista de si mesmo, a descoberta de sua própria alma. Há duas iluminações na face de um Marco Polo: de um lado o brilho ensolarado de uma boa aventura; de outro a verde lividez (palidez) do homem que foge de si mesmo. (...)
O resultado está aí: uma sociedade em pânico, que tudo aposta na estridência e na visibilidade; uma sociedade de aterrorizados que pisa os pobres, os doentes, os pequeninos, na fúria de atingir um estrado em praça pública, de onde possam fazer, uns aos outros, sinais febris e sem significação."
Gustavo Corção

Os coloridos fui eu e meu desespero didático :)

Pina Bausch

Não sei quantas pessoas interessadas em teatro lêem o meu blog, mas não custa nada tentar!
Eu fui assistir a um espetáculo dela na sexta-feira, chamado Masurca Fogo.
As pessoas saem maravilhadas e apaixonadas pelo gênio do teatro-dança.
Eu gostei muito do espetáculo, mas não foi a experiência maravilhosa da minha vida.
Porque vocês que gostam de Pina Bausch saem maravilhados?
Essa pergunta é totalmente sincera. Sem qualquer entonação crítica no meio. Conta pra mim o que você vê pra eu poder ver também?

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Obs nada a ver com o assunto: estou apavorada de medo de estar falando sozinha e ninguém me responder.... uahauhau (isso não é uma risada gostosa, é nervosa). Tipo... a nega toda engajada acha que as pessoas estão lá, quer montar debates, enquetes e na verdade não está falando com ninguém.
Tudo bem... com um pouco de resistência... eu publico esse post... AGORA... vai vai Jaquelina, clica o botão. Não tenha medo de ser você!
Ai meu é isso aí. Eu tô nesse mundo pra aprender e busco com toda minha sinceridade a verdade. E se ninguém estiver ouvindo, valeu a tentativa da busca :)

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Assim que acabou um dos solos mais longos, quando minha mão, sobre o parapeito da sacada, já não aguentava mais apoiar o peso da minha cabeça racional, a mulher do lado moveu-se toda para aplaudir desesperadamente o artista. Durante a coreografia, ela segurou o aplauso como quem segura a respiração e exatamente no segundo que sucedeu o fim da cena, antes que o próprio dançarino concentrado se desse conta que realizara sua difícil coreografia, ela explodiu. Explodiu desesperado o impulso que quase não se conteve até o fim da dança, tamanha beleza do que se viu.
E eu me encolhi na cadeira da minha ignorância. HUMMM. Acho que não entendi, aliás, não vi, ou não senti.
O que será que ela viu com seus olhos artisticamente treinados?



domingo, 2 de maio de 2010

Mais Gustavo Corção... mais "Lições de abismo"

Na vida o que mais se vê é o erro do outro. Cada indivíduo é um espetáculo, e cada grupo uma platéia. Às vezes se torna tão nítido que se isola, como ao centro de um picadeiro improvisado, o involuntário artista.
(...)
O cômico, como Bergson tão bem assinalou, supõe o social, isto é, supõe a possibilidade de imaginar um picadeiro para o personagem que se singulariza e uma arquibancada para os seus juízes, que pronunciam às gargalhadas o seu curioso veredicto.
Quem será então que se ri desse generalizado espetáculo que envolve três bilhões de palhaços? Às vezes nós conseguimos a ilusão de um camarote confortável que nos permita rir dos outros. Mas de onde vem esse eco, essa ressonância de um riso muito mais poderoso do que o meu? Quem está aí? Quem está por aí, nessas cadeiras vazias, a rir-se de mim?
O mundo é um circo em que a arena e as arquibancadas são relativas. Três bilhões de atores mal ensaiados passam a vida a divertir-se, cada um apontando no outro o rabo de papel. Ou a trave no olho.