Não quero mais a neutralidade. Quero assumir minha realidade e me expor e vencer o medo de errar que bloqueia o movimento e a criação. Quero pecar por excesso.

Esse blog é isso. Um exercício de Libertação.








segunda-feira, 30 de julho de 2012

Provando da melhor culinária grega


Ou
O causo do sexo do ouriço
Ou
O causo do Fausto de Creta
Ou
O causo de Aris, o garçom fotógrafo



    Para fechar com chave de ouro nossas super férias em Creta, fomos jantar pela segunda vez no restaurante de um conhecido do pai do Erik chamado Horgo (com toda sua licença, caro leitor, crio minha própria ortografia pra esses nomes gregos).
    Que noite inesquecível!
    Chegamos e sentamos do lado de fora, numa mesinha quadrada romântica com vista para o porto e para a igrejinha.  




    Logo que Horgo nos viu, já ordenou ao garçom que trouxesse outra mesa para junto da nossa. Horgo é uma dessas pessoas simpáticas que consegue sorrir com o rosto inteiro. Tudo nele sorri: queixo, nariz, bochechas. Eu diria até que ele sorri com as orelhas.  Voltando à questão da mesa. Por que mais uma senão esperávamos mais convidados? Por um motivo grego simples: uma mesa não é espaço suficiente para a quantidade de comida que nos será servida! A culinária francesa que me perdoe, mas eu adoro essa história de fartura.
    Novamente sem sinal de cardápio. Isso é para turistas! Para nós, Horgo deseja um bom apetite e some para dentro de sua cozinha. Aqui não se escolhe e, sim, desfruta-se dos pratos mais frescos possíveis de peixes e frutos do mar, trazidos quase vivos ainda para nossa mesa.
    Para começar vinho branco, salada grega e muito pão com azeite. Entrada perfeita. Eu já estava feliz só com isso. Os tomates da Grécia são de um frescor e de um vemelho quase...quase.... até me faltam palavras... quase transgênico. Mas são naturais.
     Em seguida um prato com algas regadas no limão, coisa mais deliciosa do mundo. Não tinham aquele gosto forte de iodo, porque eram de uma espécie que vive na beira da água e não nas profundezas do oceano. Além de saborosas são saudáveis. Segundo minha professora de meditação comer algas faz muito bem porque torna a pessoa mais flexível!?! De que forma eu não sei, mas na dúvida, sempre que eu posso, eu como.




    Comemos ainda camarões fritos, peixe assado, lula, polvo. Maravilhas gastronômicas para apreciadores de frutos do mar.





    A noite passava tranqüila com um vento quente agradável. Entre um prato e outro, o garçom Aris sentava-se por alguns minutos conosco e tomava um copo de vinho.

    Até que chega à nossa mesa um prato misterioso. Pequenas gosminhas alaranjadas difíceis de classificar à meia luz do restaurante. Ligamos a lanterna do celular sob o prato a fim de ver melhor o que nos aguardava, mas a melequinhas permaneceram tão identificáveis como no primeiro momento.

    Tato e Erik como bons homens, cavalheiros e corajosos, decidiram provar antes que nós mulheres. Garfos à postos, cada um com seu mini-filet só Deus e Horgo sabem do quê e bom apetite! Os rostos a princípio curiosos e animados foram se transfigurando numa careta de horror e nojo. Seus olhos lacrimejavam. Finalmente engolem e buscam desesperados o copo de vinho para lavar a boca do gosto do inferno. Começam a rir como loucos.
    Chegou a minha vez. Depois da cena acima, já se pode imaginar o tamanho da vontade que eu estava de encarar esse mini monstro do mar. 
    Covardia pro lado e lá vou eu viver a vida perigosamente.
    Antes da batalha, porém, era preciso alguns preparativos. Enchi meu copo de vinho para um futuro buchecho às pressas, peguei um filezinho e botei no pão com a esperança de amenizar o sofrimento, fiz um sinal da cruz e comi.
    Santa Maria dos sabores deliciosos!!! Como pode algo tão pequeno ter um gosto tão ruim? É pior que gotinhas de Buscopan composto. Parecia que eu estava comendo ralo sujo de banheira ou limbo de azulejo de parede.
   O combate foi árduo. Minhas glândulas salivares suplicavam para a língua mandar logo aquele alienígena para baixo. O estômago que se virasse! Desceu. Venci!
    Uma segunda dose, no entanto, só em troca de muito dinheiro. E foi o que os meninos fizeram para testar a coragem um do outro. 30 euros para quem comesse tudo. O prato permaneceu intacto no canto da mesa até o fim do jantar.     

    E agora é chegado o tão esperado momento. A revelação que todos aguardam. Você está preparado, caro leitor? Pare de roer as unhas de ansiedade e respire fundo, pois o mistério chegou ao fim.
    Voltando do aeroporto de Munique de carona com a mãe do Erik, perguntamos curiosos se ela sabia o que era o tal do prato servido no Horgo. Sim, ela sabia. Aquilo não eram lesmas, filés de peixe ou cavalos marinhos como havíamos suposto. Aquilo nada mais era do quê... tchan tchan tchan tchan... os órgãos reprodutores de ouriços do mar.
    AHHHHHHHH socorro! Se eu soubesse, provavelmente não teria comido.
    O mais engraçado é que ela contou que, segundo os gregos, a comida gera um efeito afrodisíaco. Ainda bem que o mundo inventou o Viagra, porque se não... coitados dos homens que precisassem de um empurrãozinho.
    Voltando ao jantar, devo dizer que o prato seguinte compensou plenamente o anterior. Dessa vez chegou até nós uma lagosta maravilhosa. A recompensa para minhas pobres glândulas salivares! Pena que o bicho é caro, se não eu comia todo dia.



    Felizes e satisfeitíssimos (pra não dizer cheios porque é falta de educação) continuamos proseando e tomando vinho. Foi quando chegou aos nossos ouvidos um barulho um tanto incomum. Parecia mugido de vaca, mas era feito por voz humana e vinha de dentro do restaurante. Tato levantou-se para averiguar e descobriu a origem dos gemidos: Um senhor degustava seu prato e gritava, sem exagero, ele berrava HUMMMMM HUMMMMM muito alto.
    Era inacreditável o prazer daquele homem em comer o que quer que ele comia. Nós e um senhor da mesa do lado trocamos olhares, segurando firme para não rir. Então se passou aquela cena que sempre acontece quando não se pode cair na gargalhada de jeito nenhum: Cai-se na gargalhada. Assim que acreditávamos estar tudo sob controle, saía um HUMMMMM ainda mais alto que os anteriores. Ri até doer a bochecha.
    E quando eu achava que não daria para ficar mais engraçado, aparece um cachorrinho maluco e começa a fazer aquele movimento bem típico de querer pegar o rabo. Isso eu só tinha presenciado em desenho animado, mas é coisa de vida real. O bicho fazia uns giros impressionantes de rápidos em torno de si mesmo, mas, para seu azar, a caça era tão rápida quanto ele. Eu gostaria muito de saber o que passa na cabeça de um cachorro nesse momento. Ainda bem que ele parou um pouco para tomar fôlego, pois não era o único sem ar naquele recinto.
    Chegou finalmente a hora da sobremesa. Hummmmm (o meu é baixinho)! Bolinhos fritos de ricota regados no mel. UAU. Nesse ponto da noite, eu já não conseguia mais me mexer de tanta comida na barriga. No entanto, eu sempre digo: tenho dois estômagos. Um para salgados e outro para doces. Os bolinhos estavam dos deuses. Gregos!



    Ainda viriam café e um destilado chamado Ouzo para ajudar na digestão. 
    De repente aproxima-se um senhor da nossa mesa e começa a conversar conosco. Vocês não vão acreditar quem era. Ele mesmo, o autor do HUMMMM em pessoa.
    Hora de falar um pouco a sério e relembrar uma boa e velha lição: as aparências enganam.
    Quem diria que aquele homem de uns 75/80 anos, com uma faixa preta típica na testa, dado como lelé por nós, fosse tão inteligente e conseguisse falar fluentemente uns 5 ou 6 idiomas diferentes? Conversamos um bom tempo em espanhol, italiano e alemão com o Fausto (seu nome). Ele ficou tão alegre que alguém finalmente o ouvia, que não parava mais um segundo de falar.
    O garçom preocupado que esse papo nos tornasse um incômodo, acionou o plano “salva clientes” do restaurante: ligava do telefone do balcão no celular do senhor (sim, tecnologia não vê idade) e desligava. Fausto parava de falar por alguns minutos concentrado no seu pequeno aparelho, mas logo voltava com uma reclamação: -Essa pessoa que me liga não sabe de nada. Aparece aqui como número privado e eu não posso retornar a ligação!
    O plano não funcionava, mas todos riam. Até que Fausto cansou de ablar e como veio, se foi. Foi, mas ficou. Para sempre.

     
    Antes de ir embora, como toda boa turista, pedi ao garçom Aris que tirasse uma foto de nós quatro. Mais um momento divertidíssimo. Ao ver nossa máquina grandona da Canon, seus olhos começaram a brilhar e ele não parava mais de nos fotografar. De cada ângulo possível ele fez uma foto e dizia com muito entusiasmo: -Nossa! Que máquina!
    Foi correndo lá dentro, buscou sua pequenininha e bateu mais algumas. Flash aqui. Flash lá. Nós um pouco sem graça com essa situação Top Model.
    Levantamos meio apressados, pagamos a conta baratíssima e nos despedimos amigavelmente.
    A alguns metros do carro, porém, Aris alcançou-nos novamente e disse que poderia tirar mais algumas fotos nossas no cais, ao lado do restaurante. Um amante da fotografia! Não havia como negar um pedido tão singelo. Fomos e fizemos praticamente um book para guardar de recordação. Muitas risadas e fotos fora de foco.  





    Tato disse que se tivéssemos dinheiro suficiente, teria presenteado o fotógrafo apaixonado sem pensar duas vezes.   



Dormimos como anjos. Anjos de barriga cheia e coração mais cheio ainda. 
Obrigado Meu Deus por ter vivido uma noite tão singular!




quarta-feira, 25 de julho de 2012

Fish Spa

    



    Caminhando alegrinhos pelas ruas do centro de Chania, depois de fazer compras na rua do couro e comer um Gyros pita delicioso, deparamo-nos com um estabelecimento cheio de aquários. No letreiro Fish Spa e no interior pessoas com os pés dentro da água.



Gyros é a carne com molho de yogurt e Pita é o nome do pão.


    OPA! Pensei. Acho que essa não é uma loja comum de comprar peixes. E não era mesmo. Acabávamos de descobrir a mais nova moda de Creta: o tal do Spa.
  Funciona assim: você paga 8 euros por 10 minutos, lava bem seus pés com sabão no lavatório e então coloca-os dentro do aquário entupido de mini peixes malucos que comerão as suas peles mortas. 
Assutador!



    Como jogar milho para as pombas, assim que se coloca o pé na água é um alvoroço sem fim. Eles nadam loucamente até achar seu lugar ao sol nas suas peles suculentas e casquentas. Eles grudam mesmo e não te soltam mais até seus 10 minutos apitarem no despertador da mocinha da loja.


               Segundos antes da aventura e segundos de cosquinha sem fim!

    Esses peixes me lembram aqueles que colam na parede do aquário e passam a vida lambendo vidro. Imagino que devem ser parentes, já que ambos compartilham um paladar tão exótico.
    A verdade é que eu estou aqui contando tudo isso, mas não me atrevi a participar em carne e osso do ritual canibal. Em pé e osso, aliás. Fui apenas mera fotógrafa espectadora.
    Quando o Tato resolveu se aventurar a cuidar de seus delicados pezinhos de jogador de futebol, ficamos curiosos se isso daria certo. Era bem possível que os peixes boiassem um após o outro de barriga pra cima, após provar dessa comida indigesta. Graças a Deus não aconteceu nada e ele não deu prejuízo para a loja. 

Filet Mignon do meu amore: tornozelo!



    Segundo os 3 corajosos é uma experiência interessante. Sente-se uma cosquinha intensa, que chega até a ser relaxante.
    Relaxante ou não o fato é que o negócio não é lá a coisa mais higiênica do mundo. Eles não trocam a água a cada novo cliente e o aquário acaba se transformando num habitat de vários outro serezinhos invisíveis.
    Enfim... se você tiver coragem vale a pena experimentar! Como tudo na vida, é um risco que se corre. O Tato até agora não pegou nenhuma micose!

domingo, 22 de julho de 2012

O causo do Eftichi e seu mini boteco

    Eftichi (fala-se Éf- ti-Ki) é um senhor gente fina de uns 57 anos, com pele morena de sol e uma barrigona de papai Noel que o deixa ainda mais simpático. Ele é dono de um mini boteco na mini vila de Spilia em Creta e grande amigo do pai do Erik (o nosso amigo).


    Dar uma passadinha no Eftichi com hora certa para ir embora é completamente impossível. Logo depois do almoço, no nosso primeiro dia, decidimos tomar uma jarrinha de vinho antes de dormir a sesta. Estávamos exaustos do vôo da madrugada e tínhamos nos programado de sair para jantar a noite.
    Jantamos, é verdade, mas no próprio bar. Nossa 1 horinha virou 5 e conseguimos deixar o local para ir direto para cama, todos alegrinhos de tanto beber. 
    Por que é tão difícil partir? Porque toda vez que ele percebe algum movimento de retirada, dá um sinal ligeiro para sua mulher Lydia, que traz imediatamente um prato de comida ou mais uma jarra de vinho. Eles são tão amorosos e desfrutam tanto a companhia dos que lá estão, que você acaba se deixando levar e fica mais um minutinho, 10, 20, horas.

Barzinho pequeno com Alessandra Ambrosio na parede.

    Seu barzinho é pequeno e simples com nada mais que umas 4 ou 5 mesas e não está nunca vazio. Quase igual um botecão  brasileiro, onde em vez de cerveja bebe-se vinho ou um destilado chamado raki. O vinho é servido bem gelado numa jarrinha com copinhos americanos e tem um gosto bem diferente dos vinhos brancos conhecidos por nós. Produzido numa vila vizinha e armazenado nessas garrofonas de 5 litros de água, ele é mais forte e mais seco. Um gosto interessante.


Comida de bar: Lingüiça frita e um creamcheese de cabra de matar de bom!

    Como em todo Boteco nesse também não falta um cachorro. O Obama, com suas patas gigantes e corpinho pequeno, é um dos mais desengonçados que eu já vi. Simpático e bonzinho combina com seu dono.
    As comidinhas são bem simples e muito saborosas. O engraçado é que você não pede nada. Eles vão trazendo os pratos conformem julgam necessário. Não existe um cardápio.


Atenção  para o quadro da parede.


     Para minha surpresa, eu não era a única brasileira no pedaço. Nas paredes dois retratos de mulheres: uma folha de calendário de novembro de 2010 com uma foto da Alessandra Ambrósio e um retrato pintando de uma mulata mostrando o seio.

Jammas! Tin tin em grego.


    Passamos uma tarde inesquecível, conversando e rindo com as pessoas locais numa Língua inexplicável, mistura de inglês (eles falavam umas poucas palavras), grego (nós aprendemos algumas), alemão (com nossos amigos) e português (entre nós, a princípio). O mais incrível foi que conseguimos nos entender razoavelmente bem. Santa linguagem corporal! Eu cheguei a conclusão que quando ambos os lados estão abertos para a comunicação, o idioma passa a ser mero detalhe. Mais fácil ainda é para os homens. Rolou um silêncio incômodo? É só começar a discutir sobre futebol que o papo pega fogo por todos os lados. Pensei seriamente em decorar uns nomes de jogadores famosos para da próxima vez poder participar. O Tato ficou tão animado num desses momentos,  depois de várias jarras de vinho, que até começou a falar português com o pessoal. Uma loucura!


Um dos pratos para não conseguirmos partir. A carninha era recheada de queijo.  

     Conhecemos figuras engraçadíssimas, como o homem das sobrancelhas grossas, que fez questão de buscar o RG no carro, para mostrar que um dia já foi jovem e bonito. Ou um outro de dentes pretos, que chegou todo sujo do trabalho, tomou um copinho e foi embora correndo. Ninguém entendeu a pressa. Voltou em 1 hora, todo orgulhoso de banho tomado, trazendo a mulher.


Tato fez amizade com o bar inteiro!

    Nessa tarde eu aprendi como o povo grego é feliz e sorridente. Não importa se estão passando por uma crise econômica braba. Eles festejam a vida! 

Hora de ir dormir.

    Na hora de ir embora, tentamos pagar a conta e o Eftichi não aceitou. Disse que pagaríamos uma próxima vez, quando ele nos oferecesse um jantar, pois aquele dia era por sua conta. Insistimos, já que qualquer dinheirinho faz ali diferença. Sua mulher então respondeu: He doesn´t want Money, He wants Friends!


Cabra frita bem na hora de sair. Ficamos então mais uma meia hora. hahaha 

    Fui embora muito tocada. Que generosidade! Uma verdadeira lição de valores. Lição de vida! Efcaristô Eftichi! (Obrigado em grego. Escrevo do jeito que se fala porque com o alfabeto cirílico fica meio difícil).  

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Ilha de Creta- uma apresentação

Ou
As melhores férias da minha vida- parte I
Ou
Dando nome aos bois, no caso, cabras
Ou 
Algumas imagens

    8 dias inesquecíveis conhecendo um país através dos olhos não turísticos de nossos amigos companheiros (os pais do Erik moraram 6 anos nesta casa onde ficamos, de forma que ele e a Isi são velhos conhecidos da ilha).
    8 dias hospedados na melhor casa, comendo nos melhores restaurantes, visitando as melhores praias e, o mais legal de tudo, conhecendo gregos de verdade. Que povo maravilhoso! Aberto! De uma generosidade inacreditável.
    Foram tantas emoções que eu nem sei por onde começar. A galinha é grande. É preciso cercá-la com cuidado para não perder nenhum detalhezinho. Acho que o melhor jeito será dividir. Limitar para expandir! Só um post, um geralzão, pode ficar comprido demais e supérfluo demais com descrições razas de um guia prático de viagens. Não meu caro amigo... O mar em Creta é fundo e para relatar essa viagem como ela merece precisamos mergulhar sem medo.
    Façamos então um relato em capítulos, que podem ser de duas naturezas distintas: imagens/momentos ou causos. Imagem não precisa explicar pq todo mundo já entende de primeira o que é. Causo porque causo é sempre um negócio simpático sem muita idéia cabeção e exigência de neurônios. Causo é mais no estilo de Creta, tranqüilo e quentinho. Mais vivido que pensado!
    Comecemos assim pela imagem que mais marcou meu coração.
    As linhas abaixo foram escritas no meu último dia de viagem, sentada na varanda, depois de um churrasco de costelinha de carneiro e salada grega, enquanto a vila de Spilia fazia sua preciosa sesta. Lá, depois do almoço, nas horas mais quentes e lentas, todo mundo dorme. Todo mundo menos as cigarras. Escandalosíssimas!  Enfim... as linhas abaixo merecem atenção porque elas são legítimas. Nascidas do frescor, ou calor, do momento. Linhas gregas natas.
    
Uma casa com piscina no meio da plantação de oliveiras, no topo de uma colina, com vista pro mar e pra pequena vila de Spilia.


Vista da sacada da nossa casa: um mar de oliveiras e ao fundo o mar de verdade!

    Da mesa onde tomamos café da manhã vejo as White Mountains de Chania e sinto o vento quente que refresca os 34 graus da ilha de Creta.
    Aqui venta um vento aconchegante!

A vila de Spilia e bem ao fundo, atrás dos campos verdes, as Montanhas!
   
    Acordamos todos os dias ao som das cigarras e dormimos embalados pelos grilos. Às vezes de manhãzinha, um burro amarrado a alguns metros do nosso quarto, dá seus urros de bom dia.

Eu muito à vontade ao lado do burro. 
   Aqui se ouve com freqüência tanto o sino romântico da pequena igreja como a voz do guia do trenzinho turístico que passa atrás da nossa casa, levando os visitantes até a oliveira mais velha que Jesus com 3.000 anos.   

Olha só o tamanho do tronco. 3000 anos de idade tem essa Oliveira!
   
   Agora vamos para momentos curtos que não tem tamanho suficiente para virar um causo. Escritos da minha cama alemã, não mais da varanda grega.  

Colhendo laranjas da casa!


Oliveiras por todos os lados
    
    Lá tomei suco natural de laranjas colhidas pelas minhas próprias mãos, experimentei uma azeitona colhida direto do pé, comi batatinha frita no azeite extra extra extra virgem das azeitonas do pai do Erik. Metade do meu quilo souvenir da viagem é culpa do pão regado no óleo de oliva. Ele é tão saboroso que dá vontade de botar num copinho, fazer um brinde e virar como se fosse tequila. Jammas (Tintin em grego)!!! Desde que voltamos só como salada com azeite grego (ganhamos 4 garrafinhas da produção da família) e sal do mar de Creta. Ai que dignidade!!! Eu fiquei tão fã do negócio que até comprei um sabonete natural de oliveiras. Não é uma loucura? Ainda não experimentei, mas tenho minhas dúvidas se a pessoa sai do banho cheirando azeitona.

A época da colheita é só em novembro, por isso o tamanhico dessas azeitonas! 


    Fiz ainda compras na rua tradicional do couro em Chania, peguei um bronzeado grego e vi a lua cheia tão de perto que podia perceber as crateras da superfície. Não meus amigos leitores, a lua não é maior em Creta. É que na casa tinha uma luneta gigante que foi nossa diversão por muitas noites, depois das partidas de truco e dos muitos copos de vinho.


    
    Na ilha também encontramos muitas muitas muitas cabras. Por todos os lados, no meio das plantações, escalando as montanhas, no meio da rodovia e se bobear até nos botecos bebendo um Ouzo (destilado de anis super forte). Creta não devia chamar a ilha do Minotauro e, sim, a ilha das cabras. Assim como as búfalas de Nápoles fazem as melhores mussarelas, essas cabrinhas fazem um queijo muito bom chamado Pheta, que vem em cima da salada grega (salada sem folhas). Ainda melhor que esse é um meio cremoso, que lembra um creamcheese e se chama Myzithra glykia. Esse é dos deuses gregos!    

A caminho da praia de Elafonissi, dirigindo pelas montanhas!
O queijo Pheta numa salada nao legítima feita por nós. A tradicional é só pepino, cebola e tomate com o queijo. Nada de folhas. Detalhe para a cerveja Mythos!!! 

    E já que estamos falando de comida... vai mais uma coisa especial. Tivemos a sorte de poder comer um doce assado com nozes super tradicional, que uma senhora nos presenteou. Esse doce é feito pela mãe da noiva para o dia do seu casamento. O povo grego é tão genoroso e festeiro, que quando acontece um evento desses, a vila toda é convidada. Haja comida!!! E lá é fartura mesmo. Você não pode deixar o prato ou o copo vazio, pois isso não dura muito tempo.  Se está satisfeito, deixe um restinho de sobra para passar a mensagem.



    Para fechar esse primeiro capítulo não posso deixar de postar essa foto engraçada da cadeira de massagem do aeroporto. Tudo começou muito relaxante, até que a cadeira resolveu amassar minhas pernas e eu fiquei meio apavorada. 


quarta-feira, 11 de julho de 2012

O jardim chinês de Zurique


Quero registrar um momento mágico que eu vivi e agradecer a Deus por sua generosidade de sempre me presentear com instantes como esse: minha visita ao jardim chinês na Suíça.

O jardim, cercado por muralhas, situa-se em um parque à beira do lago de Zurique e pode ser reconhecido de longe com seus telhados típicos amarelos.

    
    Um sábado de sol.

    Do lado de fora das muralhas pessoas dão risadas, fazem jogging, piquenique. Algumas, estendidas na grama, aproveitam o momento para fazer fotossíntese (é bom lembrar que o verão acabou de começar e nosso tanque de energia solar recém-saído do inverno precisa ser reabastecido). Crianças nadam na água doce, outras no sorvete que derrete. Ciclistas encapacetados atravessam rapidamente a cena. Patos e cisnes. Eles não fazem nada, mas estão ali para completar nossa paisagem. Todos os moradores de Zurique aproveitam o dia de calor, enquanto eu vou com meus pais para o oriente.

    Paga-se um ticket não muito caro e adentra-se o portal colorido. Um dragão no teto nos dá as boas vindas. E de repente se está do outro lado do mundo dos brasileiros. Aquele mesmo lugar que você, com 5 anos, acreditava que encontraria cavoucando bem fundo o chão.  Os olhos ocidentais vêem algo bem diferente de seu cotidiano. Tudo ganha um silêncio... parece até que alguém abaixou o volume da vida pulsante do verão lá de fora. Aqui dentro é outro cosmo, a gravidade pesa diferente.

    Observo o lago. Encontro trutas gigantes de cores vibrantes. Quase pequenas baleias laranjadas e de cor de berinjela. Encaramo-nos sem cerimônias e elas me hipnotizam com sua dança de movimentos deslizantes. Tranqüilos. Uma naDança Zen! Eu me deixo esvaziar.
    Meus olhos agora encontram letras chinesas pintadas nas pilastras vermelhas.  Que belo é o alfabeto chinês! Encantam-me esses símbolos não codificados pelo meu raciocínio. Fazem o oriente ficar ainda mais misterioso. Atraente. Distante. Inatingível.

    E a arquitetura colorida? COLORIDA! Detalhada e sensível. Porque será que nós ocidentais somos tão monocromos monótonos arquiteturalmente falando?  Aqui, pelo contrário, não se economiza no lápis-de-cor. Parece que a construção traduz um estado de espírito.



 


    Sentamos então um momento num coreto/templo para observar a paisagem. O olho ocidental vê melhor sentado. E de fato... logo vi. Vi como Deus é delicado. Ele tomou o cuidado de que naquele jardim chinês chovessem florezinhas de algodão de uma árvore muito alta. Chovia constantemente dentro das muralhas. Algumas florezinhas mais rebeldes até arriscavam um vôo para o mundo lá de fora. As mais ajuizadas formavam uma borda de algodão em torno dos caminhos de pedras que recortavam o gramado.


    Esse instante virou para mim eterno. Deixei-me levar e voei com as florezinhas de Deus até meu coração não agüentar mais tanta beleza. 

    Hora de voltar a turistar pela cidade.




    Antes de sair, porém, era preciso guardar o instante a sete chaves. Sem meus pais perceberem, olhei pela última vez os pilares vermelhos, os tetos coloridos, os chorões verdinhos, a ponte, o dragão, dobrei tudo bem dobradinho e guardei numa caixinha dessas de madeira oriental para trazer comigo para casa. A chave deixei com minhas trutas. A caixinha de madeira eu guardo sobre o móvel da sala junto com minhas souvenirs. Para sempre!

    Tudo durou um segundo. E foi tão intenso. Saí do jardim diferente, mas disfarcei bem pra ninguém perceber! Fiquei com medo de perder a caixinha. Agora que ela está em segurança aqui em casa, eu revelo meu segredo pelo blog.