Não quero mais a neutralidade. Quero assumir minha realidade e me expor e vencer o medo de errar que bloqueia o movimento e a criação. Quero pecar por excesso.

Esse blog é isso. Um exercício de Libertação.








sábado, 1 de dezembro de 2012

A árvore de Natal na Alemanha


    Um bafo natalino que eu descobri esses dias: Uma colega da meditação perguntou se era tradição no Brasil montar a árvore já no começo de Dezembro, pois sua vizinha brasileira faz isso todo ano. Perguntei quando então se enfeita o pinheiro por aqui e descobri que rola todo um mistério para as crianças.
    Na Deutschlândia o Papai Noel não é a última bolachinha do pacote não. A maioria dos pequenos, em vez de acreditar no homem da Coca Cola, aguarda ansiosa pela vinda do Cristo menino (Christkind). É ele quem monta na calada da madrugada do dia 23 a bela árvore de natal. Assim, quando as crianças acordam na manhã seguinte, vivem um momento de deslumbramento ao se depararem com a obra do Jesusinho.   

Neve


    Diversão do dia: pedalar do trabalho de volta pra casa com a boca aberta para comer os flocos de neve.
    Quando neva flocos gordos e não venta parece que o tempo passa em câmera lenta (rima do acaso).
    Eu me sinto parte de um daqueles enfeites de natal com água dentro que se chacoalha pra cair a nevinha.
    Pois é... vá saber se o mundo não é uma grande bola natalina e nós a mini cidadezinha colírio para os olhos de algum gigante.


OBS: Ando ausente porque estou muito ocupada empacotando minhas coisas para voltar pra casa e ainda não sei qual o espaço reservado pro coitado do Blog na mala.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Zugspitze- o topo da Alemanha


     Há muito tempo que queremos subir essa montanha, mas a procura do dia perfeito fez nosso passeio demorar alguns meses pra sair. Era preciso sol, muito sol, para podermos ver o máximo possível do mar de montanhas e eu sonhava que tudo estivesse branquinho de neve. Como lá é muito alto e venta muito, também não poderíamos ir no auge do inverno, quando ficar ao ar livre se tornaria insuportável. Ou seja, muitas exigências: sol, neve e temperaturas amenas. Pois tivemos a sorte de encontrar esse dia e realizamos nosso último passeio a dois, antes de voltarmos para o Brasil.
    5 horas da matina e lá vamos nós levantar para pegar o trem as 6. Dessa vez, nem as galinhas tinham acordado, já que em Novembro os dias ficam claros umas 7:30. A viagem durou 2 horas e 50 min com 4 escalas. Ui. A hora que vc começa a sentir um soninho gostosinho de trem, é hora de descer e pegar outro. Nada disso, no entanto, foi problema. Nem mesmo o fato de eu ter dormindo as 3:30 da matina. Já viu isso? Como uma criança em dia de excursão, não preguei o olho de ansiedade.


    Enfim... chegamos aos pés das Montanhas gigantescas, onde optamos por subir de teleférico. Muito legal assistir ao show de mágica do encolhimento do mundo. Existe também a opção subir de trenzinho por dentro de um túnel. O preço é o mesmo. Por sinal, um tanto salgado, mas valeu cada centavo. A vista lá de cima é simplesmente... não sei o que dizer... muuuuuuito difícil descrever a perfeição do nosso planeta.  Voltemos então ao teleférico que a essa altura já está nos últimos metros de sua subida. Últimos metros um pouco emocionantes demais para quem não adora altura. É que o vento do pico resolveu nos embalar. Aconchegante se o berço não estivesse a 3.000 metros de altura.

    Descemos da cabine. Ufa. Terra firme é terra firme. Corremos então para o tal do pico do pico, onde fica a cruz dourada. Dentro da estação uma lojinha de souvenir, um restaurante, um café e uma placa informando as condições meteorológicas: -2 graus. Por mais geladeira que isso soe para um brasileiro, no topo da Germânia é realmente uma temperatura amena. Em janeiro desse ano, adiamos nosso passeio, quando vi na internet que a temperatura lá em cima estava beirando os -30.



    Depois de uma escada, saímos por uma porta e tchãnan! Uma das vistas mais belas de toda minha vida. O infinito azul levemente coberto de neve. Silencioso. Estávamos literalmente com a cabeça nas nuvens. A imagem é tão forte que não se consegue pensar em outra coisa. Ela preenche. Hipnotiza. E você vira pura contemplação. Como se apertassem o botão pause da vida e naquele momento você só existe. Deve ser por isso que ir para as montanhas é tão relaxante. 



     Tudo é tão perfeito, que para nos trazer de volta desse momento zen de plenitude, contamos com o vento. Tão forte, mas tão forte, que às vezes era duro de respirar. Eu entrava na estação com gostinho de quero mais, esperava 5 minutos atrás da porta no quente e, assim que meus dedos paravam de latejar de frio, corria novamente lá pra fora, me atirando no infinito.

    
    Descemos em seguida alguns metros com outro teleférico para a área de ski, onde também havia um restaurante e onde se podia caminhar mais livremente pela montanha, afundar os pés na neve e escorregar de ski bunda. Essa parte é como uma pequena planície, onde venta menos. Tomamos cerveja ao ar livre no meio da neve, sem sentir um pingo de frio. Maravilhoso!



    Antes de partir, ainda almoçamos pratos típicos no restaurante mais alto da Alemanha. 
 

    Lá em baixo, o passeio não acabou. Demos uma volta pelo lago Eibsee curtindo a floresta de pinheiros com as cores do entardecer. Parecia coisa de filme.


    No fim da tarde, enfrentamos exaustos e felizes nossas 2 horas e 50 min de retorno para Freising. Trouxemos as montanhas conosco. Durante o resto do dia, onde quer que eu olhasse era aquela imagem que eu via.        




domingo, 28 de outubro de 2012

Uma semana depois... a mesma árvore!


Let it snow, let it snow, let it snow!!!

A danada chegou cedo esse ano. Chegou atropelando o outono que nem se quer ainda foi embora :)

sábado, 27 de outubro de 2012

O vazio da parede vazia


    Minha felicidade incomensurável de voltar para casa não deprecia em nenhum momento a vida maravilhosa que tenho por aqui. Por que será que a gente tem essa mania de taxar as coisas? Hoje contando para uma amiga o quanto estou ansiosa para partir, ela perguntou: nossa aqui é tão ruim assim? Absolutamente... a alegria de ir embora não diminui os maravilhosos anos que vivi na Alemanha. Uma coisa não exclui a outra.
    
    Hoje comecei a me despedir lentamente do meu larzinho delicioso. Segunda-feira o apartamento será pintando, de modo que passei o dia tirando os muitos quadros e seus pregos das paredes. Uma atividade aparentemente insignificante. Aparentemente.
    Retirar o quadro, observá-lo com carinho em minhas mãos, sorrir com a lembrança que ele me traz e depositá-lo no sofá para ser empacotado é muito prazeroso. Aqui não há a idéia de separação, já que faremos a tão longa viagem juntos e eles continuarão a fazer parte da minha história. Há, no entanto, algo que fica. Algo que chora. E esse algo é a parede branca, vazia e esburacada. Tudo ficou tão triste que eu mesma sinto-me agora um pouco branca, vazia e esburacada. Essa impessoalidade da parede sem quadros é quase um tapa na cara. Cada buraco uma ferida aberta. Sinto como se eu e meu apartamento estivéssemos terminando um relacionamento. Estamos... na realidade. Um relacionamento tão saudável e feliz que só agora me dei conta o quanto eu vou sentir falta dele.
    Hoje caiu a primeira neve desse inverno. E quando neva, a casa da gente fica infinitamente mais gostosinha e aconchegante. Não há coisa mais acolhedora do que chegar do frio lá de fora, sentir o ar quentinho do lar, fazer um chá e observar pela janela os flocos de neve caírem. Protegido. Pois é. Exatamente isso eu não senti quando cheguei hoje da rua. A casa está meio irreconhecível. Já tem menos a nossa cara e ainda está de cara virada pra mim. Fiz um chá para ajudar, mas enquanto escrevo, percebo o paredão vazio atrás da tela do computador. 
    
    Voltemos agora ao primeiro parágrafo, até então desconexo do restante do texto. A alegria de ir embora, não me impede de sentir a tristeza da despedida. É como se nunca sentíssemos um sentimento por completo. Há sempre um pedaço que chora e um que ri. Separações serão sempre doloridas. Não positivas, nem negativas. Transformadoras.
    O oco é desconfortável porque nós seres gulosos desejamos o todo. O aqui e o lá. O agora, o antes e o depois. Sem esse vazio, no entanto, como haverá espaço para o novo? Além disso... o oco nunca é oco de verdade. Ele é cheio de lembranças que levamos para sempre como tatuagens.
    
    Partirei, portanto, muito tatuada, vazia, feliz e triste.

    E aliviada porque, para nossa sorte, a palavra partir vem sempre acompanhada de outra... chegar!  


    Detalhe: depois de tudo pronto e publicado, percebo na foto uma palavra em vermelho que salta de uma das plaquinhas. Que bonito! 

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Outono e Pablo Neruda


     A árvore de frente da minha casa resolveu esse ano assumir um laranja inverossímil. Seria muito narciso pensar que ela fez isso só pra mim? Em comemoração ao meu último outono alemão? Acordar de manhã, abrir a janela do quarto e deparar-se com uma beleza dessas, faz o meu dia um pouquinho mais feliz. Obrigado quem quer que seja o responsável por isso. Aprecio o presente! 
    
    E viva a cortesia que a idéia do "último" traz para os meus olhos! 


    Para fechar aí vai um pouco de Pablo Neruda...

Se todos os rios são doces, de onde o mar tira o sal?
Como sabem as estações do ano que devem trocar de camisa?
Por que são tão lentas no inverno e tão agitadas depois?
E como as raízes sabem que devem alçar-se até a luz e saudar o ar com tantas flores e cores?
É sempre a mesma primavera que repete seu papel?
E o outono?... ele chega legalmente ou é uma estação clandestina?



quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A arte de fazer caretas na abóbora

Já que estamos em clima de Halloween, vale a pena olhar esse vídeo. O homem é um artista!



    Confesso que fiquei morrendo de vontade de tentar em casa, mas sozinha parece que perde o sentido.  

    
    Um dos momentos mais inesquecíveis que vivi com meus 7 anos nos Estados Unidos foi esculpir  uma abóbora de Halloween com meu pai. Foi um trabalho árduo e divertidíssimo. Quando pronta, acendemos uma vela dentro e colocamos orgulhosos nossa arte no parapeito da janela para assustar! Ou enfeitar!  Farei o mesmo com minhas Kids. Muito mais emocionante fabricar monstro do que fazer sopa.  



quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Circo de Pulgas: ele existe!!!


    Passeando pela Oktoberfest esse ano, tive o prazer de confirmar com esses meus olhos que a terra há de comer que os tão famosos circos de pulgas não são apenas estórias de um passado remoto. Eles existem!


    Compramos o ticket por 4 euros e tivemos o prazer de assistir por uns 10 minutos às façanhas de pulgas treinadas.
    O show acontece em uma sala bem pequenina, onde os espectadores ficam em pé e as crianças sentam-se bem próximas ao mini palco.


    Assistimos ao Número da pulga super forte que consegue sozinha girar um carrossel, uma corrida de carruagens com 3 pulgas competidoras, uma pulga que joga futebol (Essa foi impressionante... Ela segurava a bolinha e atirava no gol. Juro!) e as pulgas bailarinas que nesse dia decidiram não fazer coreografia nenhuma.



    Enquanto tudo isso acontecia, circulava uma pobrezinha, de mão em mão, acompanhada por uma lupa, a fim de que nossos olhos incrédulos confirmassem o inacreditável.
   Quando chegou minha vez, ela sorriu tão humilde na sua condição de prisioneira, que eu quase cometi um seqüestro para colocá-la junto a Pipita (pulga do meu Clown) e dar-lhe um lar com amor.  Ela, no entanto, é uma pulga mambembe e não conseguiria aturar uma vida sedentária. Seu coração pertence ao circo e às suas 99 companheiras artistas. Trocamos olhares de cumplicidade e, com um nó na garganta, passei a pequena dama cuidadosamente para a próxima mão.



    O circo conta apenas com pulgas fêmeas (são mais fortes e maiores que os machos), as quais são treinadas por 3 meses e atuam então outros 3 no show. O domador disse que suas trabalhadoras são alimentadas várias vezes ao dia, com o sangue de seu próprio braço. Aí, caro leitor, a escolha é sua: acredite se quiser.


    Há 64 anos o circo está presente na Oktoberfest! Quem tiver a oportunidade, vale a pena!  
    As fotos são do site oficial do circo (http://www.flohcirkus.de/) ou da minha amiga Rafaela. 


domingo, 7 de outubro de 2012

domingo, 30 de setembro de 2012

Vinhos e Tour pelas vinícolas de Provence

    Aqui na Alemanha eu e o Tato temos uma pequena tradição que amamos de paixão. Toda sexta-feira (quando temos compromissos passa a ser no sábado) tomamos um bom vinho e cozinhamos algo juntos. Se não cozinhamos, pelo menos comemos algo diferente. Tudo no aconchego do lar. É o nosso momento get together com muito blá blá e músicas do youtube.
    Influenciados pela última viagem, ontem foi a vez de tomar um Tempranillo espanhol de 2008. Para acompanhar o vinho (oposto do que na verdade se faz, porque geralmente o vinho é que acompanha o prato) comemos um fondue prático e gostosinho do Aldi (o supermercado da minha vida, uma das coisas que eu mais vou sentir falta daqui porque é barato e bom). É um queijo que, colocado pra assar, fica molinho por dentro. Aí corta-se a casca de cima e pronto!



    O vinho estava tão gostoso que eu decidi ler um pouco sobre isso na net e foi mega divertido.
    Procurei um site que me ajudasse a entender a diferença de um Syrah pra um Cabernet Sauvignon, por exemplo. Não achei. É difícil demais colocar em palavras o paladar. Mas acabei encontrando pérolas engraçadas como o Wikipédia descrevendo um Merlot:

O Vinho Merlot é encorpado, intensamente frutado, complexo, uma harmônica estrutura com perfeito equilíbrio. Apresenta uma cor vermelho-púrpura, seus aromas são densos e frutados, tendo uma boa evolução, deixando assim seu aroma com muita complexidade. O paladar é rico, macio, perfeitamente equilibrado, sedoso e de grande classe.

    Não sei por que, mas tenho a impressão de que toda descrição de vinho conta com as palavras encorpado e frutado rsrsrs.
   Uma curiosidade que aprendi ontem: Uma garrafa deve ser aberta cinco minutos antes de ser servida a fim de que sejam liberados vapores. Deixe também cair algumas gotas para que saiam possíveis resíduos de rolha e borra.
   Quanto mais se lê, mais se percebe como esse mundo dos vinhos é complexo (no sentido de elaborado), cheio dos nomes chics e dos costumes frinfronlés! O vinho é uma bebida tão fina que além da degustação exige uma interpretação. E nada melhor do que eu me aventurar a entender um pouquinho melhor sobre esse universo aqui na Europa, onde posso encher a cara de vinho do bão. No Aldi compramos um Merlot italiano para o dia-a-dia que custa só 1,99 e um branco africano pro verão por 2,79. Nas sextas-feiras investimos um pouco mais: de 5 a 10 euros e toma-se um vinho leeeegal. Não é genial? Quando que no Brasil isso seria possível?


    Aproveitando o tema, volto à outubro do ano passado e relembro nosso tour de vinhos em Marseille. Acho que esse foi um dos Highlights da nossa viagem à região do sul da França chamada Provence. 



    Compramos um tour particular pelas vinícolas da região. Tá aí um dinheiro bem investido! Era uma guia para nós e um casal de ingleses apenas. Ela nos levou até os melhores babados cerca de 30 minutos da cidade. Que romântico observar da janela do carro aqueles campos infinitos de uvas francesas! É gostoso sair do eixo turístico da cidade grande e sentir um pouco da vida do campo, com seu gostinho a mais de verdade.  




    Primeiro visitamos a vinícola chamada Chateau de Pibarnon. Caminhamos pelas salas do local, vimos os processos de fabricação do vinho e chegamos à etapa mais esperada: Degustação. Um dedinho no copo de cada um e começa a viagem dos tric trics. Primeiro você observa a cor. Depois cheira. Para isso meu amigo, enfie sem dó o nariz todo dentro da taça. Como se fosse mergulhar mesmo. Aí a guia perguntou o que sentíamos. Vixi. Eu não domino mesmo essa arte do olfato. Sentir já é duro, descrever então... Por isso vesti aquela cara amarela de quem está por dentro do assunto e só concordava com os outros (essa cara também é muito útil quando você conversa em outra Língua e não está entendendo nada). Momento de girar o copo várias vezes para o vinho oxigenar e liberar ainda mais seus perfumes. Cheirada número 2. Troca de adjetivos número 2 (forte, doce, um quê de tabaco). Finalmente, depois de muito ver e cheirar e dizer e raciocinar, chega o momento de saborear o manjar dos deuses com as células gustativas. Eu já estava aguada de vontade. Mas ainda não era o fim. Havia mais algumas etapas a serem seguidas. Primeiro um golinho e, sem engolir, dá-se uma bochechada, pega-se um pouquinho de ar e bochecha-se de novo. Ok ok. Quando finalmente, agoniada de desejo, concluí que era hora de engolir, não me vem a mulher com um potinho pra cuspir? Cê tá muito looooca moça! Olhei pra ela, olhei pro potinho, olhei pra ela de novo e mandei rápido goela abaixo tanto o vinho como a boa etiqueta. Sorri então com a maior cara de pau do mundo e fingi que o “tarde demais” foi involuntário! Huhuhu É que, geralmente, os especialistas fazem a degustação e cospem no final para não ficarem alcoolizados. Nós, no entanto, estávamos de férias. Além disso, uma bebida tão metida, elaborada, envelhecida não sei quantos anos jamais poderia ser desperdiçada assim. 




    Repetimos o processo várias vezes provando vinho rosè, vinho branco, tintos da mesma marca, mas de safras diferentes. No final eu já até sabia a coreografia sozinha. Olha aqui, gira ali, cheira lá, chacoalha, chacoalha e desce!  É o axé do vinho fino! Compramos um rosè, que é muito típico da região e partimos para a segunda visita.



    Dessa vez fomos a uma vinícola chamada Domaines Bunan. Visitamos os pés de uva e pudemos provar um pouquinho de cada. Que delícia! Estavam docinhas. Bom para o nosso paladar, porém maduras demais para a fabricação do vinho. A época da colheita já havia acabado (era começo de outubro). Aqui experimentamos mais uns 5 vinhos diferentes e eu precisei aderir também ao potinho cuspidor. Minha cabeça já estava pra lá de alegrinha! Compramos um vinho tinto que vamos deixar envelhecer e tomar só daqui uns 4 anos em alguma ocasião bem especial.





Aquele balde prata é o cuspidor!
    
    No fim do dia a guia nos deixou passear uns 45 minutos numa vila de pescadores chamada Cassis e voltamos para Marseille. Foi um tour muito legal! O link é esse, caso alguém um dia resolva fazê-lo:    http://www.provencewinetours.com
Optamos pelo de meio dia. 




    Fechemos o post com um momento Jaquelina: Um dia aqui em casa compramos um vinho tão perfumado, mas tããão perfumado que eu me empolguei e acabei inalando um pouco pelo nariz na hora da cheiradinha. Não foi muito legal, quase afoguei. Rsrsrs  

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Ahhh Flamenco, Flamenco, Flamenco!!!



    Desde a primeira vez que fui para a Espanha e assisti a um show de Flamenco em Barcelona, fiquei completamente apaixonada. E como toda paixão que não recebe a devida atenção, ela esfriou e ficou adormecida dentro de mim. Mas ficou.
    1 ano e meio depois, visitando a região espanhola da Andaluzia, o berço do Flamenco, encontrei-me mais uma vez com essa arte maravilhosa e fiquei completamente embriagada. Não é sem razão que em 2010 foi declarada como Patrimônio Imaterial da Humanidade. 


     
     Em Córdoba pudemos assistir a dois shows diferentes.
   O primeiro foi uma pequena apresentação no jantar de encerramento do Congresso do Tato, que contava com três músicos e uma bailarina. Um clima bem intimista. Sentei tão perto do palco que mais um passo à frente e tomaria pontapés da dançarina.    
   No primeiro grito da cantora ao microfone fiquei com os pêlos todos arrepiados e tive que fazer uma força descomunal para não cair aos prantos. Disse grito porque de fato aquela cantora maravilhosa gritava, chorava com a voz no microfone e essa avalanche vinda das entranhas das suas cordas vocais fazia migalhas com o coração da gente. Que dramático! Que sofrimento!  



    Vivi um momento catártico como há muito tempo eu não vivia. Além de tudo, o ambiente era perfeito com quadros de espanholas e toureiros em estilo Art Noveau nas paredes. Não sei nem dizer quanto tempo durou o show porque fui praticamente abduzida pelo ritmo dos saltos da jovem dançarina. Ela era tão intensa e verdadeira que, às vezes, até parecia a pomba gira possuída. Sua sinceridade e entrega me tocaram profundamente. Considero um privilégio ver um artista generoso no palco e se algumas vezes seus movimentos não eram lá dos mais elegantes, ela ganhava o público com seu sangue e suor. 
    Abaixo o nosso vídeo com um pouquinho da apresentação. Nos últimos segundos pode-se a ouvir a cantora. 




    O flamenco conquista pela sua força rítmica. Pela batida dos pés no chão. Pelas palmas. Pelas interjeições soltadas pelos músicos a fim de provocar o dançarino. É uma obra viva, uma comunicação constante entre aqueles que o fazem. Conquista por seus movimentos em negrito e bem pontuados. Nada é sutil. A cada frase uma explosão. Os bailarinos são eretos, movimentam-se com o peito aberto parecendo um pavão. Fica a sensação de que há um fio de linha puxando o pescoço para cima. É genial!



    E nada disso seria tão genial se não fosse recheado. Explico: não é uma dança forma pela forma, técnica pela técnica e, sim, movimento por sentimento. A forma traduz um estado interior de um sofrimento tão dolorido que dá vontade de sentir junto. Isso me remete também ao tango, outra dança que morro de vontade de aprender.



    Nem preciso dizer que sonho em usar um vestido daqueles de cores inverossímeis com estampas de bolas gigantes e uma flor brutal na cabeça. A estética é tão intensa, colorida, que chega a beirar o clownesco. E exatamente por esse conjunto de elementos ser tão assumidamente brega, dá-se um salto na poesia, atingindo o belo e o real. A Espanha é de uma beleza só dela, muito excêntrica. Dessa forma também compreendo o Almodóvar e talvez até parte das touradas. Os espanhóis não conhecem o morno.


   
    O outro show a que assistimos em Córdoba foi numa casa famosa chamada Flamenco Cardenal. Apesar de ser mais turístico e grandioso, foi também muito gostoso de se ver. Nesse pudemos apreciar a técnica de bailarinos e músicos com prêmios nacionais durante 2 horas. Assistimos a uma coreografia com castanholas e uma de flamenco no estilo ballet. Highlight da noite, porém, foi uma dançarina de uns 45/50 anos. A mulher era de uma elegância nata e um sofrimento sereno. Um contraponto interessante para a nossa querida pomba gira da noite anterior. Seus movimentos com o leque foram um deleite para os olhos. Inesquecível.



    Voltei pra Alemanha com uma idéia “encasquetada” na cabeça: fazer aulas de Flamenco. Como aqui meu tempo não é suficiente para isso, farei pelo menos um workshop de um dia na Volkshochschule. Estou super ansiosa! O leque eu já tenho! Foi minha souvenir opção dois, já que os tais dos xales eram caros demais. Se for legal eu volto em duas semanas para contar.
    Abaixo dois vídeos legais. O primeiro pela música. O segundo pela coreografia de uma bailarina famosa. 



segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Descobrindo a Andaluzia- Sevilha

       Sevilha é uma cidade grande com um ritmo um pouco mais agitado que Córdoba. Amarelo mostarda, branca e vermelha. Cheia de sacadas. Quente! Alto Astral! Barata!




Compramos tickets desses ônibus turísticos e a primeira parada foi a Plaza de Toros, onde ocorrem as touradas. Sim, eu sei que é polêmico. Sim, eu também acho uma covardia o que se faz com o bicho. Dizer, contudo, que a figura do toureiro com seus movimentos esguios e trajes ricamente bordados não me fascinam seria mentira. É uma figura histórica com uma aura de coragem de gladiador, sangue frio e crueldade. Um bailarino de uma dança de vida ou morte. Perfeito seria se fosse só vida. Minha versão de tourada seria uma dança maluca entre animal e homem. Haveria muito sangue sim, mas não derramado. Sangue vermelho fluindo nas veias pulsantes! A minha tourada teria até elementos cômicos: o toureiro medroso. O touro calminho. Enfim... tudo isso é só pra dizer que sou fã dos personagens com suas cores vibrantes, não do show com seu desenlace trágico. E pra dizer também que de alguma forma isso não poderia ser tão tradicional em outro país como o é na Espanha, porque ela é dramática. Quase mexicana.








    Caminhando da Plaza Del Toro para a catedral encontramos um restaurante super gente fina e movimentado. Azulejos típicos na parede, pernas de porco pra um lado, cabeça de Touros pro outro. Olé... é aqui mesmo que nós vamos comer. Sentamos no balcão debaixo da fileira de Jámons e pedimos uma porção de azeitonas para acompanhar nossas cervejinhas geladas como as brasileiras. HUMMM eu diria que essas azeitonas espanholas são o puro creme do milho verde. Carnudas e gigantescas pareciam até umas ameixas fruta de tão grandes. Chegou a primeira conta (no balcão paga-se tudo na hora) e fizemos a feliz constatação de que o copo de breja só custava 1,20 euro. Siiiiiiiiiim, meus amigos! Nós moradores da Alemanha nem lembrávamos mais o que era sentar num barzinho e beber cerveja sem ter que fazer a conta na cabeça pra não sair falido. Foi uma fartura sem fim. 

    Quando o garçom finalmente nos chamou para sentar em uma mesa, eu estava a ponto de bater um papo com as cabeças de boi penduradas na parede.  Não o fiz, porém. Tá entre nós... quer bicho mais sisudo que um touro? Almoçamos Tapas (petiscos) deliciosos: croquetes fritos, que conseguiram ser tão bons quanto os da minha avó, e meia porção de Jámon (perna de porco defumada). Apesar de ser meio caro, era obrigatório. Ir para Espanha e não comer um bom Jámon Ibérico é um sacrilégio. Pra variar, graças à Língua universal do futebol, o garçom ficou amigo do Tato e nós passamos horas de alegria fazendo uma das coisas que mais gostamos.... comer!







    Partimos de novo com o busão turístico e descemos na Plaza de España.  Antes mesmo de ver o local, eu me deparei com um homem que fazia caricaturas por apenas 5 euros. Nossaaaaaa, foi a realização de um sonho! Sempre quis ser desenhada ao vivo e a cores por um tio sem dente de praça igual aquele, mas era sempre tudo tão caro que eu acabava desistindo. Agora a vida me dava uma oportunidade dessas por cincão? Nem que o desenho não parecesse eu mesma... já valia a pena. Não pensei duas vezes e sentei no banquinho. Enquanto ele desenhava, eu tentava ler pelos olhos do Tato como é que eu estava ficando. O tio demorou só 5 minutos. Ainda bem... porque minha boca já estava dura de tanto sorrir. Finalmente ele disse que eu podia levantar e observar a figura. Hummm. Ok. Sorriso amarelo. Num primeiro momento eu diria que não parecia muito comigo. O artista, no entanto, brilhava satisfação ao lado de sua obra. Aí, para não ficar frustrada, formulei o pensamento consolador: as pessoas podem ter bloqueios mentais em relação à caricaturas de si mesmas e talvez, de fato, os outros me vejam desse jeito. Bom ou não, sou eu! Além do mais, ele me pintou com um vestido de flamenco, ou seja, realizou dois sonhos num só. Paguei satisfeita. Fiz um rolinho para o papel não amassar e caminhei o resto do dia feliz da vida, cheia de cuidados com aquele canudo. 

    Pois é. Mas alegria de pobre, meus amigos, dura pouco. E como não voltaremos mais tarde nesse assunto eu já antecipo o fim da história. Minha alegria durou exatamente 24 horas. No dia seguinte, na fila para embarcar no avião de volta pra Germânia, tive a infeliz idéia de sentar um minutinho no banco e esticar as pernas. O canudão, meu inseparável companheiro desde então, depositei numa mesinha ao meu lado. E lá está ele até hoje, se as moças da limpeza não o encontraram. O lado bom é que se alguém o descobriu, poderá dizer que é um retrato de si mesmo. O desenho é tão genérico e universal que serve a qualquer ser humano do sexo feminino. O lado triste é que eu tinha criado amor pela coisa. Filho da gente é sempre lindo. O Tato foi quem me consolou. A verdade é que ele tinha achado uma porcaria, mas não disse antes pra eu não ficar triste. Sorte sua que você perdeu!   Eu tentando me conformar: É mesmo... além disso, o tio teve a pachorra de fazer uma verruga no meu nariz! Onde já se viu tamanha liberdade poética? Pooooxa.... mas até com a verruga eu já tinha me acostumado. Bom... dos males o menor. Uma recordação eu aindo tenho: a foto. 




    Agora voltemos para a praça que ficou lá paradinha nos esperando, enquanto eu contava que fim deu minha desgraça. Que lugar maravilhoso!!! Gigantesco, cheio de azulejos pintados à mão, elementos árabes, pontes venezianas, cavalos puxando charretes carregadas de turistas, uma fonte de água fresca. Tudo isso com uma cor especial de 38 Graus. Amei.







Fazendo o 4 em homenagem ao nosso aniversário de casamento. 



    Hora de continuar o passeio. E lá vamos nós torrar o coco no banquinho do ônibus turístico até a próxima atração. Para não dizer que minto, aí está a prova.

    
    Demos uma volta quase completa pela cidade toda, passando até por um lugar onde tinha um foguete. Aí, não sei se foi por causa do bafo do calor ou do balancinho do ônibus, o melhor remédio de dormir do mundo, fomos dominados por uma leseira invencível. Dessas que se passa a olhar com um olho só pra economizar energia. Descemos na praça perto do Hotel como dois peregrinos que caminham a semanas no deserto sem água. Eram ainda 19:00. Muito cedo para dormir. Sentamos então num barzinho no meio das árvores e tomamos um vinho tempranillo espanhol, desfrutando cada segundo da noite quente de verão. Em algum momento começou a tocar uma banda no meio da praça e tudo virou uma festa. Parecia balada no gramado da Unicamp. A banda tocava músicas parecidas com o do Beirut e o povo dançava sem medo. Jantamos dois pratinhos de Salmorejo (Sopa de tomates com pão e ovo cru. O ovo eu só descobri depois, o que confesso, deu um certo revertério nas minhas células traumatizadas pela salmonela). Na ocasião, porém, lambi até os beiços. 

   
  
  No dia seguinte, tiramos a manhã antes de embarcar para conhecer o Real Alcazar. Fantástico!



   


   A construção com mais elementos árabes que vi até então. Parecia que tínhamos saído da Europa direto para o Marrocos ou para as Arábias. Só faltava mesmo um sultão gordo sentado numas almofadas coloridas e, é claro, o gênio da lâmpada. 

    
    O palácio era todo detalhado com paredes milimetricamente esculpidas, mosaicos, arcos, pilares. Seus jardins eram quase infinitos de tão grandes. Um lugar completamente fotogênico. Por isso economizemos palavras, já que as imagens valem por mil delas.









    Para finalizar almoçamos nos arredores do Alcazar um prato com 7 tipos diferentes de Tapas, acompanhados por Sangria e Cervejinha.


   Viagem maravilhosa para fechar com chave de ouro nossos 4 anos na Europa!