Não quero mais a neutralidade. Quero assumir minha realidade e me expor e vencer o medo de errar que bloqueia o movimento e a criação. Quero pecar por excesso.

Esse blog é isso. Um exercício de Libertação.








segunda-feira, 3 de maio de 2010

Sobre quem fingimos que somos

Mais trechos de Lições de Abismo.


"Tempos atrás observei o auditório do Père Lebret, que por aqui andou pregando sua economia e Humanismo. Ali estavam diversas senhoras atentas. Tinham ido à conferência do padre. Saboreavam agora a boa, a sólida conquista dessas duas horas bem etiquetadas (Conferência do Père Lebret). Mas a que ficou em casa, quando lhe disseram no dia seguinte que Dulce e Marta tinham ido à conferência, sentir-se-á diminuída.
O conferencista que não se iluda: a maioria das pessoas ali presentes só quer de sua doutrina o mesmo que das cadeiras: um encosto, um contato, um remédio contra a solidão. O conferencista, suas teses, suas conclusões, são como sinais, fraldas ao topo do mastro de uma jangada perdida. O que importa, soberanamente, na conferência do Père Lebret, é o direito de dizer nos dias seguintes:
-Ontem, na conferência do Lebret....
(...)
Disse atrás que Pascal explica a maior parte das viagens pelo desejo de buscar assunto e alimento para a vaidade. Viaja-se para obter um diploma, como o de bacharel; ou para aumentar o reservatório de temas. Viaja-se para voltar com carimbos na mala, e com vulcões na memória.
Posso imaginar o aventureiro retilíneo que faça exceção, mas não duvido que o caso geral seja este de quem parte para voltar, para trazer a personalidade engrossada.
Mas essa mesma idéia, como tudo o que é do homem, tem duas faces. Acho belíssima essa voracidade do homem, e essa capacidade de trazer para casa, para a sala-de-estar, sob as espécies de assunto, as guerras, os terremotos, os ciclones. Por outro lado, porém, acho lúgubre (triste, medonho) essa avidez (ambição) de engrossar por fora a ganga do eu, numa capitulação (rendição) da maior das aventuras, que é a conquista de si mesmo, a descoberta de sua própria alma. Há duas iluminações na face de um Marco Polo: de um lado o brilho ensolarado de uma boa aventura; de outro a verde lividez (palidez) do homem que foge de si mesmo. (...)
O resultado está aí: uma sociedade em pânico, que tudo aposta na estridência e na visibilidade; uma sociedade de aterrorizados que pisa os pobres, os doentes, os pequeninos, na fúria de atingir um estrado em praça pública, de onde possam fazer, uns aos outros, sinais febris e sem significação."
Gustavo Corção

Os coloridos fui eu e meu desespero didático :)

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