Sevilha é uma cidade grande
com um ritmo um pouco mais agitado que Córdoba. Amarelo mostarda, branca e
vermelha. Cheia de sacadas. Quente! Alto Astral! Barata!
Compramos tickets desses ônibus turísticos e a
primeira parada foi a Plaza de Toros, onde ocorrem as touradas. Sim, eu sei que
é polêmico. Sim, eu também acho uma covardia o que se faz com o bicho. Dizer,
contudo, que a figura do toureiro com seus movimentos esguios e trajes
ricamente bordados não me fascinam seria mentira. É uma figura histórica com
uma aura de coragem de gladiador, sangue frio e crueldade. Um bailarino de uma
dança de vida ou morte. Perfeito seria se fosse só vida. Minha versão de
tourada seria uma dança maluca entre animal e homem. Haveria muito sangue sim,
mas não derramado. Sangue vermelho fluindo nas veias pulsantes! A minha tourada
teria até elementos cômicos: o toureiro medroso. O touro calminho. Enfim...
tudo isso é só pra dizer que sou fã dos personagens com suas cores vibrantes,
não do show com seu desenlace trágico. E pra dizer também que de alguma forma
isso não poderia ser tão tradicional em outro país como o é na Espanha, porque
ela é dramática. Quase mexicana.
Caminhando da Plaza Del Toro
para a catedral encontramos um restaurante super gente fina e movimentado. Azulejos
típicos na parede, pernas de porco pra um lado, cabeça de Touros pro outro. Olé...
é aqui mesmo que nós vamos comer. Sentamos no balcão debaixo da fileira de
Jámons e pedimos uma porção de azeitonas para acompanhar nossas cervejinhas
geladas como as brasileiras. HUMMM eu diria que essas azeitonas espanholas são
o puro creme do milho verde. Carnudas e gigantescas pareciam até umas ameixas fruta
de tão grandes. Chegou a primeira conta (no balcão paga-se tudo na hora) e
fizemos a feliz constatação de que o copo de breja só custava 1,20 euro.
Siiiiiiiiiim, meus amigos! Nós moradores da Alemanha nem lembrávamos mais o que
era sentar num barzinho e beber cerveja sem ter que fazer a conta na cabeça pra
não sair falido. Foi uma fartura sem fim.
Quando o garçom finalmente nos
chamou para sentar em uma mesa, eu estava a ponto de bater um papo com as
cabeças de boi penduradas na parede. Não
o fiz, porém. Tá entre nós... quer bicho mais sisudo que um touro? Almoçamos Tapas
(petiscos) deliciosos: croquetes fritos, que conseguiram ser tão bons quanto os
da minha avó, e meia porção de Jámon (perna de porco defumada). Apesar de ser
meio caro, era obrigatório. Ir para Espanha e não comer um bom Jámon Ibérico é
um sacrilégio. Pra variar, graças à Língua universal do futebol, o garçom ficou
amigo do Tato e nós passamos horas de alegria fazendo uma das coisas que mais
gostamos.... comer!
Partimos de novo com o busão turístico e descemos na Plaza de España. Antes mesmo de ver o local, eu me deparei com um homem que fazia caricaturas por apenas 5 euros. Nossaaaaaa, foi a realização de um sonho! Sempre quis ser desenhada ao vivo e a cores por um tio sem dente de praça igual aquele, mas era sempre tudo tão caro que eu acabava desistindo. Agora a vida me dava uma oportunidade dessas por cincão? Nem que o desenho não parecesse eu mesma... já valia a pena. Não pensei duas vezes e sentei no banquinho. Enquanto ele desenhava, eu tentava ler pelos olhos do Tato como é que eu estava ficando. O tio demorou só 5 minutos. Ainda bem... porque minha boca já estava dura de tanto sorrir. Finalmente ele disse que eu podia levantar e observar a figura. Hummm. Ok. Sorriso amarelo. Num primeiro momento eu diria que não parecia muito comigo. O artista, no entanto, brilhava satisfação ao lado de sua obra. Aí, para não ficar frustrada, formulei o pensamento consolador: as pessoas podem ter bloqueios mentais em relação à caricaturas de si mesmas e talvez, de fato, os outros me vejam desse jeito. Bom ou não, sou eu! Além do mais, ele me pintou com um vestido de flamenco, ou seja, realizou dois sonhos num só. Paguei satisfeita. Fiz um rolinho para o papel não amassar e caminhei o resto do dia feliz da vida, cheia de cuidados com aquele canudo.
Pois é. Mas alegria de pobre, meus amigos, dura pouco. E como não voltaremos mais tarde nesse assunto eu já antecipo o fim da história. Minha alegria durou exatamente 24 horas. No dia seguinte, na fila para embarcar no avião de volta pra Germânia, tive a infeliz idéia de sentar um minutinho no banco e esticar as pernas. O canudão, meu inseparável companheiro desde então, depositei numa mesinha ao meu lado. E lá está ele até hoje, se as moças da limpeza não o encontraram. O lado bom é que se alguém o descobriu, poderá dizer que é um retrato de si mesmo. O desenho é tão genérico e universal que serve a qualquer ser humano do sexo feminino. O lado triste é que eu tinha criado amor pela coisa. Filho da gente é sempre lindo. O Tato foi quem me consolou. A verdade é que ele tinha achado uma porcaria, mas não disse antes pra eu não ficar triste. Sorte sua que você perdeu! Eu tentando me conformar: É mesmo... além disso, o tio teve a pachorra de fazer uma verruga no meu nariz! Onde já se viu tamanha liberdade poética? Pooooxa.... mas até com a verruga eu já tinha me acostumado. Bom... dos males o menor. Uma recordação eu aindo tenho: a foto.
Agora voltemos para a praça
que ficou lá paradinha nos esperando, enquanto eu contava que fim deu minha desgraça. Que lugar maravilhoso!!! Gigantesco, cheio de azulejos pintados à mão,
elementos árabes, pontes venezianas, cavalos puxando charretes carregadas de
turistas, uma fonte de água fresca. Tudo isso com uma cor especial de 38 Graus.
Amei.
Fazendo o 4 em homenagem ao nosso aniversário de casamento. |
Hora de continuar o passeio.
E lá vamos nós torrar o coco no banquinho do ônibus turístico até a próxima
atração. Para não dizer que minto, aí está a prova.
Demos uma volta quase
completa pela cidade toda, passando até por um lugar onde tinha um foguete. Aí,
não sei se foi por causa do bafo do calor ou do balancinho do ônibus, o melhor remédio de dormir do mundo, fomos dominados por uma leseira
invencível. Dessas que se passa a olhar com um olho só pra economizar energia.
Descemos na praça perto do Hotel como dois peregrinos que caminham a semanas no
deserto sem água. Eram ainda 19:00. Muito cedo para dormir. Sentamos então num
barzinho no meio das árvores e tomamos um vinho tempranillo espanhol,
desfrutando cada segundo da noite quente de verão. Em algum momento começou a
tocar uma banda no meio da praça e tudo virou uma festa. Parecia balada no
gramado da Unicamp. A banda tocava músicas parecidas com o do Beirut e o povo
dançava sem medo. Jantamos dois pratinhos de Salmorejo (Sopa de tomates com pão
e ovo cru. O ovo eu só descobri depois, o que confesso, deu um certo revertério
nas minhas células traumatizadas pela salmonela). Na ocasião, porém, lambi até
os beiços.
No dia seguinte, tiramos a
manhã antes de embarcar para conhecer o Real Alcazar. Fantástico!
A construção
com mais elementos árabes que vi até então. Parecia que tínhamos saído da
Europa direto para o Marrocos ou para as Arábias. Só faltava mesmo um sultão gordo sentado numas almofadas coloridas e, é
claro, o gênio da lâmpada.
O palácio era todo detalhado com paredes milimetricamente esculpidas, mosaicos, arcos, pilares. Seus jardins eram quase infinitos de tão grandes. Um lugar completamente fotogênico. Por isso economizemos palavras, já que as imagens valem por mil delas.
Para finalizar almoçamos nos
arredores do Alcazar um prato com 7 tipos diferentes de Tapas, acompanhados por Sangria e Cervejinha.
Viagem maravilhosa para
fechar com chave de ouro nossos 4 anos na Europa!
Poxa! Que legal! Fico muito feliz com seu comentário. Feliz de saber que alguém além da minha família e amigos também gosta da minha escrita :)
ResponderExcluirJá espiei o seu blog e achei muito interessante. Vou passear por ele no fim de semana com mais calma!
Sucesso e bom divertimento nessa vida de blogueiro.
Abraço
Jaqueline
Jaque querida, nada mal heim,foram 4 anos bem vividos na Europa!
ResponderExcluirQue bagagem vc estará levando!
Maravilha!
bjs