Não quero mais a neutralidade. Quero assumir minha realidade e me expor e vencer o medo de errar que bloqueia o movimento e a criação. Quero pecar por excesso.

Esse blog é isso. Um exercício de Libertação.








sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Ahhh Flamenco, Flamenco, Flamenco!!!



    Desde a primeira vez que fui para a Espanha e assisti a um show de Flamenco em Barcelona, fiquei completamente apaixonada. E como toda paixão que não recebe a devida atenção, ela esfriou e ficou adormecida dentro de mim. Mas ficou.
    1 ano e meio depois, visitando a região espanhola da Andaluzia, o berço do Flamenco, encontrei-me mais uma vez com essa arte maravilhosa e fiquei completamente embriagada. Não é sem razão que em 2010 foi declarada como Patrimônio Imaterial da Humanidade. 


     
     Em Córdoba pudemos assistir a dois shows diferentes.
   O primeiro foi uma pequena apresentação no jantar de encerramento do Congresso do Tato, que contava com três músicos e uma bailarina. Um clima bem intimista. Sentei tão perto do palco que mais um passo à frente e tomaria pontapés da dançarina.    
   No primeiro grito da cantora ao microfone fiquei com os pêlos todos arrepiados e tive que fazer uma força descomunal para não cair aos prantos. Disse grito porque de fato aquela cantora maravilhosa gritava, chorava com a voz no microfone e essa avalanche vinda das entranhas das suas cordas vocais fazia migalhas com o coração da gente. Que dramático! Que sofrimento!  



    Vivi um momento catártico como há muito tempo eu não vivia. Além de tudo, o ambiente era perfeito com quadros de espanholas e toureiros em estilo Art Noveau nas paredes. Não sei nem dizer quanto tempo durou o show porque fui praticamente abduzida pelo ritmo dos saltos da jovem dançarina. Ela era tão intensa e verdadeira que, às vezes, até parecia a pomba gira possuída. Sua sinceridade e entrega me tocaram profundamente. Considero um privilégio ver um artista generoso no palco e se algumas vezes seus movimentos não eram lá dos mais elegantes, ela ganhava o público com seu sangue e suor. 
    Abaixo o nosso vídeo com um pouquinho da apresentação. Nos últimos segundos pode-se a ouvir a cantora. 




    O flamenco conquista pela sua força rítmica. Pela batida dos pés no chão. Pelas palmas. Pelas interjeições soltadas pelos músicos a fim de provocar o dançarino. É uma obra viva, uma comunicação constante entre aqueles que o fazem. Conquista por seus movimentos em negrito e bem pontuados. Nada é sutil. A cada frase uma explosão. Os bailarinos são eretos, movimentam-se com o peito aberto parecendo um pavão. Fica a sensação de que há um fio de linha puxando o pescoço para cima. É genial!



    E nada disso seria tão genial se não fosse recheado. Explico: não é uma dança forma pela forma, técnica pela técnica e, sim, movimento por sentimento. A forma traduz um estado interior de um sofrimento tão dolorido que dá vontade de sentir junto. Isso me remete também ao tango, outra dança que morro de vontade de aprender.



    Nem preciso dizer que sonho em usar um vestido daqueles de cores inverossímeis com estampas de bolas gigantes e uma flor brutal na cabeça. A estética é tão intensa, colorida, que chega a beirar o clownesco. E exatamente por esse conjunto de elementos ser tão assumidamente brega, dá-se um salto na poesia, atingindo o belo e o real. A Espanha é de uma beleza só dela, muito excêntrica. Dessa forma também compreendo o Almodóvar e talvez até parte das touradas. Os espanhóis não conhecem o morno.


   
    O outro show a que assistimos em Córdoba foi numa casa famosa chamada Flamenco Cardenal. Apesar de ser mais turístico e grandioso, foi também muito gostoso de se ver. Nesse pudemos apreciar a técnica de bailarinos e músicos com prêmios nacionais durante 2 horas. Assistimos a uma coreografia com castanholas e uma de flamenco no estilo ballet. Highlight da noite, porém, foi uma dançarina de uns 45/50 anos. A mulher era de uma elegância nata e um sofrimento sereno. Um contraponto interessante para a nossa querida pomba gira da noite anterior. Seus movimentos com o leque foram um deleite para os olhos. Inesquecível.



    Voltei pra Alemanha com uma idéia “encasquetada” na cabeça: fazer aulas de Flamenco. Como aqui meu tempo não é suficiente para isso, farei pelo menos um workshop de um dia na Volkshochschule. Estou super ansiosa! O leque eu já tenho! Foi minha souvenir opção dois, já que os tais dos xales eram caros demais. Se for legal eu volto em duas semanas para contar.
    Abaixo dois vídeos legais. O primeiro pela música. O segundo pela coreografia de uma bailarina famosa. 



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