Não quero mais a neutralidade. Quero assumir minha realidade e me expor e vencer o medo de errar que bloqueia o movimento e a criação. Quero pecar por excesso.

Esse blog é isso. Um exercício de Libertação.








domingo, 19 de agosto de 2012

Um pouco de Índia


    Infelizmente, aqui na Europa, comer fora não é tão barato como no Brasil. Por isso sair para jantar, quando o bolso permite, torna-se um evento extraordinário.
    Sábado passado foi um desses dias singulares. Decidimos finalmente experimentar a comida de um restaurante italiano super tradicional de Freising. Como o lugar é pequeno e aconchegante, achei melhor ligar e fazer uma reserva. Surpresa chata: A insensível da secretária eletrônica me comunicou com sua voz fria que o local estará fechado até o fim do mês.
    Poxa! E agora? Não podia decepcionar minhas lombrigas e quebrar a promessa de levá-las comer fora. Seria como tirar doce de criança e isso não se faz.
    -Calma meninas, nós vamos dar um jeitinho. Já que a Itália encontra-se inacessível, é preciso escolher outro destino.
    Ficamos entre a Grécia, a Tailândia e a Índia. Optamos pelo último. No quesito variedade, devo dizer que nossa pequena Freising está de nota dez. Aqui existe até restaurante Vietnamita e Afegão.
    Eu e Tato montamos nas nossas bicicletas e pedalamos até Bombay no fim da Hauptstrasse (rua principal).
    Na frente do restaurante um tumulto de pessoas com roupas tradicionais. Opa, pensei, espero que tenha lugar para nós. Prendemos as bikes, corremos como mortos de fome desesperados para a entrada e demos com a cara faminta na porta fechada. Novamente uma surpresa desagradável: uma placa sem coração informava que o local estava fechado para uma festa particular.
    Nãããããããão! (Leia esse grito como aqueles de filme de terror). De novo não! Minhas lombrigas ficaram com os olhos marejados ao ler o pedaço de papel. Não havia nada a fazer além de mudar mais uma vez o roteiro da viagem.
    Viramos as costas e caminhamos sem rumo, quando ouvimos uma voz que falava conosco. Seria a voz da consciência? Não meus amigos. Saiu de lá de dentro um homem de uns 40 nos, vestido com roupas típicas e desculpou-se pela situação desagradável de ter que nos mandar embora com o estômago vazio. Era a festa de aniversário de sua filha e por isso estava o restaurante fechado naquela noite.
    Agradecemos a sua educação e partimos. Suponho que nossa expressão era mais triste que dos famintos de Portinari, pois dois passos adiante ouvimos sua voz novamente:
    -Se vocês não se importarem de comer do nosso Buffet, podem entrar e sentar lá fora no terraço. Aqui dentro o pessoal está dançando e assim vocês ficam mais a vontade.
    Apesar de não entender direito a situação, aceitei sem hesitar. Nem mesmo a reação do Tato eu esperei. Um convite tão simpático não se nega. Além disso, sou fã número 1 dessas experiências culturais e sentir um pouquito da Índia a 15 minutos de distância da minha casa é uma oportunidade imperdível.
    Entramos. Cheiro de incenso e música indiana no ar. Por todos os lados adultos e crianças vestidos a caráter. Mulheres com roupas coloridas, lenços brilhantes, brincos, colares, pulseiras, piercings. Ahhhh como eu desejei vestir uma roupa daquelas, nem que fosse só por uns instantes. Alguns dançavam. Parecia mesmo que estávamos na Índia.
    Foi então que encontrei a tão desejada mesa do Buffet.  Até meu terceiro olho arregalou. As lombrigas festejavam frenéticas. Diferente de um dia normal quando se escolhe um determinado prato do cardápio, eu poderia provar um pouquinho de tudo o que o restaurante oferecia. Uau!
    O senhor nos apresentou as opções, fizemos um prato bem recheado e sentamos na área externa para apreciar as delícias da culinária indiana.  
    Que sorte a nossa pensávamos. Foi uma noite agradabilíssima.
    A surpresa mais gostosa, no entanto, nos aguardava na hora de partir. Chamamos o dono da festa e pedimos a conta.
    - Que conta? Hoje vocês são meus convidados, não é preciso pagar nada.
    - O quê? Sério? Muito obrigado! Pagamos então pelo menos pelas cervejas.
    - Da Próxima vez!
    Que generosidade! Um coração bondoso e desapegado de lucro desse jeito não é fácil de encontrar hoje em dia. Será isso uma característica comum da civilização indiana?
    Saímos felizes e tão animados que, antes de voltar pra casa, ainda demos um pulinho no México para tomar um drink bem gostoso. El corazón é o nome do bar.
    Isso é que se pode chamar de noite internacional. Dois brasileiros fazem um brinde em alemão ao corazón do dono de Bombay. Prost!


    Moral da história: Há males que vem para o bem. As férias do italiano não podiam ter vindo em momento melhor !

Um comentário:

  1. aiii que delícia ler seu blog...me divirto a tampas, do jeito que vc explica eu consegui fazer um filminho na minha cabeça quando lia...imaginei nitidamente tudo kkkkkkkk!
    Você de indiana ficou um arraso, fiu fiuu rss!!
    linda um beijo enorme em seu coração!

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