Não quero mais a neutralidade. Quero assumir minha realidade e me expor e vencer o medo de errar que bloqueia o movimento e a criação. Quero pecar por excesso.

Esse blog é isso. Um exercício de Libertação.








sábado, 27 de outubro de 2012

O vazio da parede vazia


    Minha felicidade incomensurável de voltar para casa não deprecia em nenhum momento a vida maravilhosa que tenho por aqui. Por que será que a gente tem essa mania de taxar as coisas? Hoje contando para uma amiga o quanto estou ansiosa para partir, ela perguntou: nossa aqui é tão ruim assim? Absolutamente... a alegria de ir embora não diminui os maravilhosos anos que vivi na Alemanha. Uma coisa não exclui a outra.
    
    Hoje comecei a me despedir lentamente do meu larzinho delicioso. Segunda-feira o apartamento será pintando, de modo que passei o dia tirando os muitos quadros e seus pregos das paredes. Uma atividade aparentemente insignificante. Aparentemente.
    Retirar o quadro, observá-lo com carinho em minhas mãos, sorrir com a lembrança que ele me traz e depositá-lo no sofá para ser empacotado é muito prazeroso. Aqui não há a idéia de separação, já que faremos a tão longa viagem juntos e eles continuarão a fazer parte da minha história. Há, no entanto, algo que fica. Algo que chora. E esse algo é a parede branca, vazia e esburacada. Tudo ficou tão triste que eu mesma sinto-me agora um pouco branca, vazia e esburacada. Essa impessoalidade da parede sem quadros é quase um tapa na cara. Cada buraco uma ferida aberta. Sinto como se eu e meu apartamento estivéssemos terminando um relacionamento. Estamos... na realidade. Um relacionamento tão saudável e feliz que só agora me dei conta o quanto eu vou sentir falta dele.
    Hoje caiu a primeira neve desse inverno. E quando neva, a casa da gente fica infinitamente mais gostosinha e aconchegante. Não há coisa mais acolhedora do que chegar do frio lá de fora, sentir o ar quentinho do lar, fazer um chá e observar pela janela os flocos de neve caírem. Protegido. Pois é. Exatamente isso eu não senti quando cheguei hoje da rua. A casa está meio irreconhecível. Já tem menos a nossa cara e ainda está de cara virada pra mim. Fiz um chá para ajudar, mas enquanto escrevo, percebo o paredão vazio atrás da tela do computador. 
    
    Voltemos agora ao primeiro parágrafo, até então desconexo do restante do texto. A alegria de ir embora, não me impede de sentir a tristeza da despedida. É como se nunca sentíssemos um sentimento por completo. Há sempre um pedaço que chora e um que ri. Separações serão sempre doloridas. Não positivas, nem negativas. Transformadoras.
    O oco é desconfortável porque nós seres gulosos desejamos o todo. O aqui e o lá. O agora, o antes e o depois. Sem esse vazio, no entanto, como haverá espaço para o novo? Além disso... o oco nunca é oco de verdade. Ele é cheio de lembranças que levamos para sempre como tatuagens.
    
    Partirei, portanto, muito tatuada, vazia, feliz e triste.

    E aliviada porque, para nossa sorte, a palavra partir vem sempre acompanhada de outra... chegar!  


    Detalhe: depois de tudo pronto e publicado, percebo na foto uma palavra em vermelho que salta de uma das plaquinhas. Que bonito! 

Um comentário:

  1. aiiiiiiii Jaqueeeee,me desmanchei em lagrimas
    Não sei se vc sabe estou indo amanha para o Brasil, o primo do meu marido antecipou as férias, e obviamente estou pulando de alegria. Eu não comentei antes para não alarmar falsas esperanças, porque meu visto estava na policia para refazer, e eu não tinha certeza que iria ficar pronto antes da minha ida ao Brasil. Pois bem, peguei o passaporte hoje e já estou indo amanha, o GU irá só dia 17 de dezembro. Minha volta será em fevereiro. O que eu queria dizer com tudo isso, é que estou sofrendo só de pensar que terei que voltar sabia? Besta né...
    Quero te ver heim gata, trocar nossas experiências ao vivo e a cores! beijão minha querida

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