Desde a primeira vez que fui
para a Espanha e assisti a um show de Flamenco em Barcelona, fiquei
completamente apaixonada. E como toda paixão que não recebe a devida atenção,
ela esfriou e ficou adormecida dentro de mim. Mas ficou.
1 ano e meio depois,
visitando a região espanhola da Andaluzia, o berço do Flamenco, encontrei-me mais
uma vez com essa arte maravilhosa e fiquei completamente embriagada. Não é sem
razão que em 2010 foi declarada como Patrimônio Imaterial da Humanidade.
Em Córdoba pudemos assistir a dois shows diferentes.
O primeiro foi uma pequena
apresentação no jantar de encerramento do Congresso do Tato, que contava com
três músicos e uma bailarina. Um clima bem intimista. Sentei tão perto do palco
que mais um passo à frente e tomaria pontapés da dançarina.
No primeiro grito da cantora
ao microfone fiquei com os pêlos todos arrepiados e tive que fazer uma força
descomunal para não cair aos prantos. Disse grito porque de fato aquela cantora
maravilhosa gritava, chorava com a voz no microfone e essa avalanche vinda das
entranhas das suas cordas vocais fazia migalhas com o coração da gente. Que dramático!
Que sofrimento!
Vivi um momento catártico
como há muito tempo eu não vivia. Além de tudo, o ambiente era perfeito com
quadros de espanholas e toureiros em estilo Art Noveau nas paredes. Não sei nem
dizer quanto tempo durou o show porque fui praticamente abduzida pelo ritmo dos
saltos da jovem dançarina. Ela era tão intensa e verdadeira que, às vezes, até
parecia a pomba gira possuída. Sua sinceridade e entrega me tocaram profundamente.
Considero um privilégio ver um artista generoso no palco e se algumas vezes
seus movimentos não eram lá dos mais elegantes, ela ganhava o público com seu
sangue e suor.
Abaixo o nosso vídeo com um pouquinho da apresentação. Nos últimos segundos pode-se a ouvir a cantora.
O flamenco conquista pela
sua força rítmica. Pela batida dos pés no chão. Pelas palmas. Pelas
interjeições soltadas pelos músicos a fim de provocar o dançarino. É uma obra
viva, uma comunicação constante entre aqueles que o fazem. Conquista por seus
movimentos em negrito e bem pontuados. Nada é sutil. A cada frase uma explosão.
Os bailarinos são eretos, movimentam-se com o peito aberto parecendo um pavão.
Fica a sensação de que há um fio de linha puxando o pescoço para cima. É
genial!
E nada disso seria tão genial
se não fosse recheado. Explico: não é uma dança forma pela forma, técnica pela
técnica e, sim, movimento por sentimento. A forma traduz um estado interior de
um sofrimento tão dolorido que dá vontade de sentir junto. Isso me remete
também ao tango, outra dança que morro de vontade de aprender.
Nem preciso dizer que sonho
em usar um vestido daqueles de cores inverossímeis com estampas de bolas
gigantes e uma flor brutal na cabeça. A estética é tão intensa, colorida, que
chega a beirar o clownesco. E exatamente por esse conjunto de elementos ser tão
assumidamente brega, dá-se um salto na poesia, atingindo o belo e o real. A
Espanha é de uma beleza só dela, muito excêntrica. Dessa forma também compreendo
o Almodóvar e talvez até parte das touradas. Os espanhóis não conhecem o morno.
O outro show a que assistimos
em Córdoba foi numa casa famosa chamada Flamenco Cardenal. Apesar de ser mais
turístico e grandioso, foi também muito gostoso de se ver. Nesse pudemos
apreciar a técnica de bailarinos e músicos com prêmios nacionais durante 2
horas. Assistimos a uma coreografia com castanholas e uma de flamenco no estilo
ballet. Highlight da noite, porém, foi uma dançarina de uns 45/50 anos. A
mulher era de uma elegância nata e um sofrimento sereno. Um contraponto interessante
para a nossa querida pomba gira da noite anterior. Seus movimentos com o leque
foram um deleite para os olhos. Inesquecível.
Voltei pra Alemanha com uma
idéia “encasquetada” na cabeça: fazer aulas de Flamenco. Como aqui meu
tempo não é suficiente para isso, farei pelo menos um workshop de um dia na
Volkshochschule. Estou super ansiosa! O leque eu já tenho! Foi minha souvenir opção dois, já que os tais dos xales eram caros demais. Se for legal eu volto
em duas semanas para contar.
Abaixo dois vídeos legais. O primeiro pela música. O segundo pela coreografia de uma
bailarina famosa.
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