Aqui na Alemanha eu e o Tato temos uma pequena tradição
que amamos de paixão. Toda sexta-feira (quando temos compromissos passa a ser
no sábado) tomamos um bom vinho e cozinhamos algo juntos. Se não cozinhamos,
pelo menos comemos algo diferente. Tudo no aconchego do lar. É o nosso momento
get together com muito blá blá e músicas do youtube.
Influenciados pela última viagem, ontem foi a vez de
tomar um Tempranillo espanhol de 2008. Para acompanhar o vinho (oposto do que
na verdade se faz, porque geralmente o vinho é que acompanha o prato) comemos um fondue
prático e gostosinho do Aldi (o supermercado da minha vida, uma das coisas que
eu mais vou sentir falta daqui porque é barato e bom). É um queijo que, colocado
pra assar, fica molinho por dentro. Aí corta-se a casca de cima e pronto!
O vinho estava tão gostoso que eu decidi ler um pouco
sobre isso na net e foi mega divertido.
Procurei um site que me ajudasse a entender a diferença
de um Syrah pra um Cabernet Sauvignon, por exemplo. Não achei. É difícil demais
colocar em palavras o paladar. Mas acabei encontrando pérolas engraçadas como o
Wikipédia descrevendo um Merlot:
O
Vinho Merlot é encorpado, intensamente
frutado, complexo, uma harmônica estrutura com perfeito equilíbrio. Apresenta
uma cor vermelho-púrpura, seus aromas são densos e frutados, tendo uma boa
evolução, deixando assim seu aroma com muita complexidade. O paladar é rico,
macio, perfeitamente equilibrado, sedoso e de grande classe.
Não sei por que, mas tenho a
impressão de que toda descrição de vinho conta com as palavras encorpado e
frutado rsrsrs.
Uma curiosidade que aprendi ontem: Uma garrafa deve ser
aberta cinco minutos antes de ser servida a fim de que sejam liberados vapores.
Deixe também cair algumas gotas para que saiam possíveis resíduos de rolha
e borra.
Quanto mais se lê, mais se percebe como esse mundo dos
vinhos é complexo (no sentido de elaborado), cheio dos nomes chics e dos
costumes frinfronlés! O vinho é uma bebida tão fina que além da degustação
exige uma interpretação. E nada melhor do que eu me aventurar a entender um pouquinho
melhor sobre esse universo aqui na Europa, onde posso encher a cara de vinho do
bão. No Aldi compramos um Merlot italiano para o dia-a-dia que custa só 1,99 e
um branco africano pro verão por 2,79. Nas sextas-feiras investimos um pouco
mais: de 5 a 10 euros e toma-se um vinho leeeegal. Não é genial? Quando que no
Brasil isso seria possível?
Aproveitando o tema, volto à outubro do ano passado e
relembro nosso tour de vinhos em Marseille. Acho que esse foi um dos Highlights
da nossa viagem à região do sul da França chamada Provence.
Compramos um tour particular pelas vinícolas da região.
Tá aí um dinheiro bem investido! Era uma guia para nós e um casal de ingleses apenas.
Ela nos levou até os melhores babados cerca de 30 minutos da cidade. Que
romântico observar da janela do carro aqueles campos infinitos de uvas
francesas! É gostoso sair do eixo turístico da cidade grande e sentir um pouco
da vida do campo, com seu gostinho a mais de verdade.
Primeiro visitamos a vinícola chamada Chateau de
Pibarnon. Caminhamos pelas salas do local, vimos os processos de fabricação do vinho
e chegamos à etapa mais esperada: Degustação. Um dedinho no copo de cada um e
começa a viagem dos tric trics. Primeiro você observa a cor. Depois cheira.
Para isso meu amigo, enfie sem dó o nariz todo dentro da taça. Como se fosse
mergulhar mesmo. Aí a guia perguntou o que sentíamos. Vixi. Eu não domino mesmo
essa arte do olfato. Sentir já é duro, descrever então... Por isso vesti aquela
cara amarela de quem está por dentro do assunto e só concordava com os outros
(essa cara também é muito útil quando você conversa em outra Língua e não está
entendendo nada). Momento de girar o copo várias vezes para o vinho oxigenar e
liberar ainda mais seus perfumes. Cheirada número 2. Troca de adjetivos número
2 (forte, doce, um quê de tabaco). Finalmente, depois de muito ver e cheirar e
dizer e raciocinar, chega o momento de saborear o manjar dos deuses com as
células gustativas. Eu já estava aguada de vontade. Mas ainda não era o fim. Havia
mais algumas etapas a serem seguidas. Primeiro um golinho e, sem engolir, dá-se
uma bochechada, pega-se um pouquinho de ar e bochecha-se de novo. Ok ok. Quando
finalmente, agoniada de desejo, concluí que era hora de engolir, não me vem a
mulher com um potinho pra cuspir? Cê tá muito looooca moça! Olhei pra ela,
olhei pro potinho, olhei pra ela de novo e mandei rápido goela abaixo tanto o
vinho como a boa etiqueta. Sorri então com a maior cara de pau do mundo e fingi
que o “tarde demais” foi involuntário! Huhuhu É que, geralmente, os especialistas fazem a degustação e cospem
no final para não ficarem alcoolizados. Nós, no entanto, estávamos de férias.
Além disso, uma bebida tão metida, elaborada, envelhecida não sei quantos anos
jamais poderia ser desperdiçada assim.
Repetimos o processo várias vezes provando vinho rosè,
vinho branco, tintos da mesma marca, mas de safras diferentes. No final eu já
até sabia a coreografia sozinha. Olha aqui, gira ali, cheira lá, chacoalha,
chacoalha e desce! É o axé do vinho
fino! Compramos um rosè, que é muito típico da região e partimos para a segunda
visita.
Dessa vez fomos a uma vinícola chamada Domaines Bunan.
Visitamos os pés de uva e pudemos provar um pouquinho de cada. Que delícia!
Estavam docinhas. Bom para o nosso paladar, porém maduras demais para a
fabricação do vinho. A época da colheita já havia acabado (era começo de
outubro). Aqui experimentamos mais uns 5 vinhos diferentes e eu precisei aderir
também ao potinho cuspidor. Minha cabeça já estava pra lá de alegrinha!
Compramos um vinho tinto que vamos deixar envelhecer e tomar só daqui uns 4
anos em alguma ocasião bem especial.
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Aquele balde prata é o cuspidor! |
No fim do dia a guia nos deixou passear uns 45 minutos
numa vila de pescadores chamada Cassis e voltamos para Marseille. Foi um tour
muito legal! O link é esse, caso alguém um dia resolva fazê-lo: http://www.provencewinetours.com.
Optamos pelo de meio dia.
Fechemos o post com
um momento Jaquelina: Um dia aqui em casa compramos um vinho tão perfumado,
mas tããão perfumado que eu me empolguei e acabei inalando um pouco pelo nariz
na hora da cheiradinha. Não foi muito legal, quase afoguei. Rsrsrs