Um trechinho que achei muito bonito do livro "A viagem do elefante" de José Saramago.
Obs: Não estranhe, Saramago escreve com uma pontuação maluca, às vezes só com vírgulas.
O cornaca Subhro (aquele que cuida do elefante) acompanhou Salomão (o elefante) na revista, dando-se por despedido. Não era homem para permitir que se lhe desmandasse o coração em público, mesmo quando, como agora, lágrimas invisíveis lhes deslizam pela cara abaixo. A coluna de soldados pôs-se em movimento, acabou-se, não os voltaremos a ver nesse teatro, a vida é assim, os actores aparecem, logo saem do palco, porque o próprio, o comum, o que sempre virá a acontecer mais tarde ou mais cedo, é debitarem as falas que aprenderam e sumirem-se pela porta do fundo, a que dá para o jardim. Adiante o caminho faz uma curva, os soldados detêm os cavalos para levantarem o braço e acenarem o último adeus. Subhro imita-lhes o gesto e salomão deixa sair da garganta o seu barrito mais sentido, é tudo quanto se lhes permite fazer, este pano caído não se levantará mais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário